A devoção do Santíssimo Nome de Jesus
A devoção ao Santíssimo Nome de Jesus é uma prática rica na tradição católica, que nos convida a refletir sobre o poder e a importância do nome de Jesus em nossas vidas.
Esta devoção, embora à primeira vista possa parecer de pouca importância, é afirmada como sendo de altíssima eficácia e de grande alcance. O Nome de Jesus não é meramente um nome, mas um resumo de todo o poder, amor, doçura e sabedoria de Jesus. Foi um Nome escolhido, dado e imposto por Deus, expressando de forma completa e perfeita a missão divina de Jesus na Terra e encerrando em si virtude, eficácia e poder infinitos e irresistíveis. Ademais, Jesus mereceu este Nome sofrendo e morrendo por nós, o que significa que o Santo Nome coloca à nossa disposição os méritos infinitos de Sua Paixão e Morte. São Paulo atesta que o Nome de Jesus está acima de todos os nomes, fazendo ajoelhar a todos no Céu, na Terra e no Inferno. Para os Anjos, é alegria indescritível; para os homens, traz perdão e misericórdia; e põe em derrota as potências do Inferno.
A história, tanto bíblica quanto a partir dos primeiros tempos do Cristianismo, oferece testemunhos concretos do poder deste Nome. São Pedro e São Paulo operaram curas e milagres, pregaram e confundiram adversários, estabelecendo a Igreja Católica e a Civilização Cristã, tudo pela virtude do Nome de Jesus. Mártires encontraram constância no Sagrado Nome, como o Conde Armogasto, que resistiu à tortura invocando-o. A oração do Nome "Jesus Nazareno, Rei dos Judeus" pôs Satanás em fuga para o Rei Edmundo. São Gregório de Tours curou seu pai doente usando um cartão com o Nome de Jesus. Santos como São Bernardo experimentavam a máxima consolação, paz e doçura ao repetir o Nome. São Leonardo de Porto Maurício promovia a devoção, recomendando escrever o Nome nas portas, e um incêndio em Porto-Ferrajo respeitou as janelas onde o Nome estava escrito. Santa Cristiana curou uma criança e uma rainha pronunciando o Nome de Jesus. Santo Alexandre de Alexandria, sem eloquência, confundiu um talentoso orador pagão simplesmente dizendo "Jesus". Santo Inácio de Loyola demonstrou seu amor ao Nome nomeando sua ordem "Companhia de Jesus", e São Francisco de Regis saudava a todos com "Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo".
Um exemplo notável do poder do Nome é relatado durante a Peste em Lisboa, no reinado de Dom João I. O Bispo Dom Frei André Dias, pregando com espírito apostólico, exortou as pessoas a serem devotas do Santíssimo Nome de Jesus, a carregá-lo na alma, na boca, escrevê-lo no peito e pintá-lo nas portas das casas. Ele assegurava que Jesus, que sofrera por homens que nada Lhe mereciam, teria misericórdia dos aflitos que buscassem merecer algo Dele. Diante da fé e da prática crescente, o bispo propôs a fundação de uma Confraria do Santíssimo Nome de Jesus, acreditando que Jesus, fonte de piedade, usaria de misericórdia com seus irmãos e confrades, e através deles, com toda a terra. A Confraria foi fundada e o Nome de Jesus se espalhou pela cidade como o único antídoto, com efeitos tão certos que, segundo o bispo, maravilhas como aquelas não aconteciam em toda a Cristandade há cem anos. Em quarenta dias, a peste cessou completamente na cidade. Após a tormenta, a devoção não diminuiu, mas cresceu, alimentada pela gratidão, e a fé e confiança na proteção de Jesus se enraizaram de tal forma que as pessoas clamavam por Ele instintivamente em todas as necessidades e perigos, e Deus nada recusava às suas orações.
A devoção ao Nome de Jesus oferece frutos espirituais e benefícios tangíveis. Cada vez que o Nome de Jesus é pronunciado devotamente, dá-se grande prazer e glória a Deus e à corte celeste. Em troca, alcança-se grande graça e afasta-se o demônio. A Igreja concede Indulgência Parcial que pode ser aplicada às almas do Purgatório. O próprio Jesus garantiu que tudo o que pedimos ao Pai em Seu Nome será recebido, uma promessa consoladora na qual Deus nunca falta. Por isso, a Santa Igreja conclui suas orações com "Por Nosso Senhor Jesus Cristo", como garantia de alcançar o que se pede. Além disso, carregar ou colocar cartões com o Nome de Jesus em casas ou sob travesseiros é recomendado como proteção poderosa contra males, doenças e epidemias. A devoção aumenta a fé, enche o coração de paz e alegria, e produz resultados únicos, exercendo enorme influência na religião e na fé. A prática constante desta devoção é apresentada como um segredo que traz a maior consolação em vida e garante uma santa e abençoada morte.
O que é a oração de Jesus e porque ela é necessária ?
Em nosso mundo contemporâneo, enfrentamos desafios constantes que parecem acentuar a agitação interior e a desconexão. A violência, a competitividade, a avareza e a cultura da aparência buscam penetrar em nós, tornando o ambiente externo hostil. Nossa mente, muitas vezes, se torna inimiga, manipulando os valores do meio e gerando uma inquietude infinita impulsionada pela ansiedade. Há um "rumor profundo" permanente dentro de nós, constituído por diálogos internos, e um estado que pode ser caracterizado como a "mente errante"e a "tirania do corpo", onde o corpo mal-acostumado exerce poder sobre nosso ser. Vivemos imersos em uma cultura de consumo e coisas fugazes, o que pode nos dar a impressão de progresso quando, na verdade, estamos apenas no início do caminho.
Diante dessa realidade, a Oração de Jesus surge como um refúgio que traz paz à alma. Longe de promover a inércia, ela impulsiona a ação transformadora. O praticante constante sente-se fortalecido, encontrando em si mesmo a força necessária para lidar com os estímulos e reações do mundo exterior. Essa prática é também conhecida como a "oração do coração"e representa uma "via"ou um caminho espiritual que transcende gerações e culturas. É uma vocação especial, um desejo pela profunda unificação da alma
O cerne da Oração de Jesus reside na repetição sistemática de uma frase ou palavra que visa unificar a mente em torno de um centro. O primeiro objetivo claro é substituir a divagação mental pelo ato de rezar. Mediante a repetição do Santo Nome de Jesus Cristo, esse rumor profundo dos diálogos internos pode ser silenciado. A oração utiliza o corpo como apoio, enraizando-se na vida cotidiana, recorrendo à respiração ou ao coração. O que se diz na oração deve corresponder ao que se sente, e a repetição se torna uma lembrança constante da atitude necessária para manter o coração aberto à presença divina.
Essa prática tem como objetivo supremo viver na presença do Senhor. Estar consciente, nesse contexto, é o mesmo que estar na presença de Deus. A oração de Jesus abre um espaço de silêncio interior, fazendo irromper uma misteriosa comunhão entre o Criador e a criatura. É um caminho para o essencial, que leva ao centro de nós mesmos, aumentando o espaço onde habita aquele que invocamos. A Oração de Jesus é uma das vias que conduzem ao coração de Cristo, considerada o caminho mais curto, embora íngreme no início.
Origem e difusão
A Oração de Jesus, também conhecida como "oração do coração", tem suas raízes nas primeiras comunidades cristãs, que buscavam reafirmar a presença de Jesus através da invocação de Seu Nome. Essa prática fez parte da ascese individual de alguns padres do deserto antes do século V. Com o passar do tempo, essa "via" ou caminho espiritual se sistematizou no oriente cristão, notavelmente no Monte Atos (Grécia), por volta do século XII.
Posteriormente, a oração se difundiu por toda a região eslava e chegou a alguns mosteiros russos até o século XIX. Ao longo dos séculos, também foi se incorporando à vida de alguns santos e monges no Ocidente, que a mencionaram em seus escritos. Hoje, ela permanece arraigada na prática dos fiéis e religiosos nas igrejas do Oriente.
Sua difusão no Ocidente foi grandemente auxiliada pela publicação de obras como "Relatos de uma peregrina russa" e a disseminação dos tratados da "Filocalia". Além disso, um fator principal para a sua expansão significativa nos dias atuais é a revolução da mídia na internet. Centenas e milhares de missionários começaram a propagar intensamente a devoção ao Santo Nome de Jesus em todos os países do mundo. Essa propagação também foi impulsionada pela missão dada aos padres Dominicanos pelo Beato Gregório X, depois do Concílio de Lião, para ensinar a força e a beleza do Santo Nome de Jesus.
Quem é chamado para essa oração ?
A Oração de Jesus é descrita como uma vocação especial, um chamado que desperta um desejo de unificação profunda da alma. Esse caminho espiritual, ou "via", muitas vezes atrai as "almas maduras" que vivenciaram a vida intensamente e encontraram desventura naquilo que é valorizado pelos outros.
É um chamado que se dirige aos arrependidos, àqueles que tomaram consciência de sua miséria, de suas motivações mesquinhas e do domínio de seu ego. Sem perder a esperança, essas pessoas desejam uma mudança radical. É também um alerta para quem sabe e sente que tudo nos foi dado e que nada acontece por acaso. Essa inclinação para a oração do Nome manifesta-se frequentemente como um desejo de simplicidade, de silêncio e de evitar complicações, acompanhado de um crescente amor e profunda admiração por Cristo Jesus.
Essa via não é para quem é muito apegado aos próprios pensamentos nem para quem se sente conformado com sua vida espiritual. Pelo contrário, é indicada para aqueles que ainda não encontraram Deus de uma forma satisfatória, que não estão contentes com seus progressos espirituais ou que sentem que fracassam continuamente, mesmo que não por circunstâncias externas, mas por não se sentirem realizados. A iniciação na Oração de Jesus, em muitos casos, começa na angústia, no sofrimento e na dor da alma. Experiências como grandes fracassos, a consciência severa da própria condição, situações desesperadoras, solidão profunda, transtorno e incerteza são cenários comuns para quem inicia a "via do Nome".
A pessoa que se sente chamada a essa oração geralmente reconhece sua ignorância e debilidade, a miséria de seu egoísmo inato e a mesquinhez oculta por trás de muitas ações. Essa consciência da própria condição humana incompleta parece ser o motor para a repetição da oração. Portanto, é um caminho para aqueles com o coração predisposto e a alma aberta ao mistério do amor que se manifesta como misericórdia, que se sentem impelidos a uma vida mais simples e centrada na presença divina.
A prática: como começar
A prática em si envolve a repetição contínua do Nome de Jesus ou de uma frase escolhida que inclua Seu Nome. O primeiro objetivo prático é substituir a divagação mental pelo ato de rezar, adquirindo assim um santo costume e um hábito mental. Não é necessário prender-se excessivamente à quantidade de repetições, mas sim desejar a graça da oração contínua e invocar o Nome que está acima de qualquer nome. O importante é repetir com sentimento e afeto.
A Oração de Jesus pode ser realizada em diversas posições — sentado, de pé, caminhando, trabalhando e até conversando — em todo momento e em qualquer condição. O primeiro passo é criar o hábito de rezar em si mesmo, para depois aprofundá-lo. Uma forma sugerida de começar é utilizando a frase como "entrada" e "saída" para outras formas de oração ou para qualquer atividade, funcionando como uma "chave" que abre passagem nas tarefas cotidianas. Deve ser um hábito consciente, um apelo à providência e uma "escada" em direção à lembrança de Deus. Repita a oração ao despertar, em momentos de solidão ou pausa no agito diário (elevador, esperando transporte, no banheiro), e cada vez que se sentir inquieto, angustiado ou disperso, dizendo-a com sentimento profundo. Repita também ao se deitar. Para progredir, a pessoa deverá ter por norma conceder ao corpo só o necessário e à mente nada mais além da oração de Jesus. Isso envolve uma ascese mínima no uso das coisas materiais e corporais, buscando a sobriedade.
A prática da oração frequentemente utiliza o corpo como apoio para enraizar-se na vida cotidiana. Pode-se recorrer à respiração ou ao coração. Alguns anacoretas associaram a respiração à oração, unificando corpo e mente. Em momentos de oração pessoal, pode-se procurar interiorizar a frase e o Nome no coração mediante a inspiração, com suavidade e profundidade, como enchendo o coração de ar. Pode-se dar uma breve parada após a inspiração e acompanhar a expiração repetindo a oração de forma nova e relaxada. Concentre-se na repetição do Nome com todo o seu ser, usando a mente, as emoções e mesmo o corpo. Não se prenda demasiadamente à técnica; busque o que de modo mais simples ajude a estar unido ao Nome, provando com liberdade por vários dias e circunstâncias. Quando disperso no dia a dia, voltar a repetir o Nome e concentrar a atenção no que está fazendo é a solução
Quanto à frase a ser utilizada, é imprescindível que ela inclua a presença do Nome de Jesus Cristo. O restante da frase pode adequar-se à necessidade particular de cada um, mas aconselha-se decidir por uma frase e mantê-la por longo tempo. A forma tradicional é: "Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, pecador!". A palavra "piedade" pode ser substituída por "misericórdia", e a frase pode ser encurtada, chegando a pronunciar somente "Jesus Cristo!". O que se diz ao repetir a oração deve corresponder ao que se sente. O mais importante é que a frase seja íntima, tenha significado para quem a recita e se arraigue no corpo e na mente. Pronuncie a frase com o coração. A frase pode variar de acordo com o momento espiritual ou permanecer a mesma por toda a vida. A repetição se torna uma lembrança constante da atitude necessária para manter o coração aberto à presença divina.
Integrando a oração: mente, corpo e ação
A prática da Oração de Jesus é um caminho profundo que visa integrar e unificar a pessoa em todas as suas dimensões. O objetivo central é substituir a divagação mental pelo ato de rezar, silenciando o "rumor profundo" dos diálogos internos. Isso requer uma ação interior de renúncia aos pensamentos errantes, suspeitando do valor da divagação mental. A oração unifica a mente em torno do Santo Nome de Jesus Cristo, que se torna um centro estável. Quem se aprofunda nessa oração precisa ir se despedindo dos pensamentos e renegar o discurso da mente, com o qual costumamos nos identificar. Ao inibir a proliferação de pensamentos no início da prática, a mente paulatina mente se unifica, levando à tranquilidade e à diminuição do fluxo de pensamentos. A repetição atenta da oração aumenta o espaço interior onde Aquele que invocamos habita, preparando a mente para concentrar-se no essencial.
Além de unificar a mente, a "via" da oração de Jesus utiliza o corpo como apoio para enraizar a prática na vida cotidiana. O corpo, templo do Espírito Santo, é um instrumento para a experiência terrena e deve servir à alma na busca de Deus. Para progredir, é necessário colocar ordem na vida corporal e material, praticando uma ascese mínima que consiste em limitar-se ao necessário e evitar o supérfluo (conhecido como nepsis ou sobriedade). Isso significa adquirir controle sobre o próprio corpo, convertendo-o em um instrumento eficaz de crescimento espiritual. A integração entre o corpo e a oração é frequentemente buscada através da respiração ou do coração. A respiração, a mente e as emoções formam um conjunto contínuo, e tranquilizar a respiração ajuda a acalmar a mente e os sentimentos. Ao unificar a mente pela repetição do Nome, a respiração se torna rítmica, os sentimentos serenos, e a concentração no coração (entendido como o centro da pessoa e receptáculo da graça aumenta. A identificação com o coração como o verdadeiro centro, em vez da mente, é fundamental. A prática intensa da oração possibilita a experiência do transcendente no cotidiano e coloca o corpo a serviço dos outros.
A Oração de Jesus também transforma a ação cotidiana. Ela pode ser praticada em qualquer momento e condição — caminhando, trabalhando e até conversando. O objetivo é viver uma vida de oração constante e ininterrupta. Isso se manifesta em um modo particular de agir, que se assemelha a uma liturgia ou atitude de adoração em qualquer trabalho ou tarefa. Consiste em realizar as ações com máxima atenção, serenidade, concentração e reverência, como um celebrante na liturgia. Essa qualidade na ação constitui a oração. O gozo e a paz interior não dependem das circunstâncias, mas da atitude da alma, e podem se espalhar nas atividades. A pessoa é convidada a "colorir" tudo o que faz com a oração de Jesus, bendizendo o mundo com o Nome e retornando à frase escolhida nas quedas e progressos como forma de aderir à vida e consentir à vontade de Deus. Antes de iniciar uma ação, deve-se dispor-se adequadamente, oferecendo a tarefa a Deus na mente e buscando a paz no coração. Essa prática promove a ação transformadora e permite lidar com estímulos externos a partir de um espaço interior de deliberação, buscando coerência com o Evangelho. Atuar com confiança em Deus permite expressar a intenção sem prejuízo para si ou para os outros. A oração serve para todos e em todas as situações; quando disperso, repetir o Nome e concentrar-se no que está fazendo é a solução. Ver as atividades diárias como parte do que o Senhor pede e buscar a presença divina em tudo transforma o cotidiano em um caminho para Jesus Cristo. Servir ao Senhor a cada momento, vivendo para Ele e repetindo o Nome, é o caminho.
A estrutura da oração de Jesus
- Senhor: A primeira palavra reconhece a soberania e a divindade de Jesus. Nas Escrituras, o termo "Senhor" (especialmente quando ligado ao nome de Deus, YHWH/Tetragrammaton ) é usado para se referir a Deus, o Criador e Governador de tudo. Ao invocar Jesus como "Senhor", o praticante o coloca na mesma posição de reverência e autoridade que é devida a Deus Pai. É um reconhecimento de Sua divindade e poder.
- Jesus: Este é o Nome central da oração, carregado de imenso poder e significado. Conforme mencionado anteriormente (com base na nossa conversa e em informações que complementam diretamente os textos, mas que os textos apoiam implicitamente), o nome "Jesus" significa "Jeová é salvação" ou "Deus salva". As fontes destacam que este nome foi escolhido e dado por Deus Pai e encerra em si a "virtude, eficácia e poder infinitos e irresistíveis". É o nome "acima de todos os nomes", que faz dobrar todo joelho no céu, na terra e no inferno. A invocação do Nome de Jesus com fé torna a presença do Senhor ressuscitado real e é um ato de fé em Sua força salvadora e transformadora. Repetir o Nome de Jesus traz paz e consolação, livra de males e perigos, e é uma oração infalível que garante que o que pedirmos ao Pai em Seu Nome, receberemos.
- Cristo: Este termo, que significa "Ungido" ou "Messias", identifica Jesus como o enviado de Deus com uma missão especial. Refere-se à união de Suas naturezas divina e humana. Ao dizer "Jesus Cristo", o orante invoca a totalidade da pessoa de Jesus – Sua identidade divina e humana – reconhecendo-O como o Salvador prometido. É um nome que, à sua menção, pode inflamar o coração em amor e servir como uma visão do Redentor divino.
- Filho de Deus: Esta parte da oração reafirma explicitamente a divindade de Jesus e Sua relação única com Deus Pai. Invocar Jesus como o Filho de Deus implica o reconhecimento de aspectos doutrinários (Sua natureza divina), eclesiais (Sua posição central na Igreja) e místicos (Sua presença e ação na alma do fiel) da fé. É um reconhecimento fundamental de quem Jesus é em essência.
- Tende piedade (ou Misericórdia): Esta é a súplica central da oração. A frase "tende piedade de mim" ou "tende piedade de nós" tem raízes profundas na tradição bíblica e na espiritualidade oriental. O termo "misericórdia" é interpretado como uma súplica especial dirigida a Deus para que se aproxime da miséria do coração da pessoa em oração. É um pedido por compaixão, pela preocupação amorosa de Deus, que se manifesta como a descida da graça ou a ação da providência divina que socorre em situações difíceis. É o reconhecimento da nossa necessidade da intervenção divina devido à nossa condição.
- De mim, pecador: Esta parte personaliza a súplica, tornando-a um clamor individual. Reconhecer-se como "pecador" é uma dimensão crucial da oração. A Oração de Jesus inicia-se na angústia e dor da alma, necessitando do fermento da "consciência do próprio pecado". Envolve o reconhecimento da própria ignorância, debilidade, miséria, egoísmo e mesquinhez. A suave dor do arrependimento ("metanoia") e a "compunção do coração" (dor pela consciência do próprio pecado, mas na tradição monástica, misturada com alegria pelo perdão) são o "campo de plantio" fértil para essa oração. Essa parte foi, em parte, uma adição posterior à oração, especialmente para noviços. Quanto mais a pessoa se aproxima de Deus, mais clara se torna a consciência de sua própria condição pecaminosa. Assim, a oração se torna um humilde clamor por misericórdia.
Em conjunto, a Oração de Jesus "Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tende piedade de mim, pecador" é uma invocação profunda da identidade divina e salvífica de Jesus, um reconhecimento humilde da própria condição humana e pecaminosa, e um clamor direto pela Sua misericórdia e graça. Cada parte contribui para tornar a oração um caminho de transformação e renovação. A prática constante permite que o orante entre no mistério divino, experimente a presença de Jesus e encontre no "coração interior, morada carnal e espiritual onde habitam Cristo e a plenitude da graça", a paz e a unificação da alma.
Lidando com desafios: combate espiritual e obstáculos
O caminho da oração de Jesus, embora seja uma via para a paz interior, não está isento de desafios e obstáculos. Esses desafios vêm tanto do mundo exterior, que pode ser hostil e impor violência, competitividade, avareza e a cultura da aparência, quanto, e de forma crucial, de dentro de nós mesmos. Nossa própria mente, com sua constante divagação mental, e um corpo mal-acostumado, cuja busca pela satisfação do efêmero gera inquietude e ansiedade, são fontes significativas de dificuldade. A prática, nos primeiros passos, aumenta a consciência da nossa agitação interior, das nossas inúmeras debilidades e contradições interiores não resolvidas, o que pode ser uma experiência dolorosa e gerar tristeza, insatisfação, vazio interior e até mesmo tédio. Sentir-se incompleto e ansioso faz parte da natureza humana, mas o desafio reside em não direcionar esses anseios para o que é fugaz.
O caminho espiritual implica um combate espiritual contra nossos "principais inimigos", que são as tendências, hábitos, vícios e pecados que frequentemente nos subjugam e impedem o progresso. Esses comportamentos nos fazem voltar sempre ao mesmo ponto, criando obstáculos aparentemente intransponíveis. O pecado, a queda e o vício começam com uma "laxidão da alma", um estado de carência interior que se manifesta como angústia, inquietação, aborrecimento ou tensão. Corpo e mente buscam alívio para essa tensão através de atividades que descarregam ou anestesiam a ansiedade. O momento decisivo do combate é aquele em que, para tentar esquecer a dor íntima, queremos abraçar o prazer fugaz. É preciso abandonar o homem velho que vive em nós.
Para lidar com esses desafios, a prática oferece ferramentas eficazes. Uma delas é a atenção. A atenção deve estar de prontidão para advertir da direção errônea da mente e para observar o que está acontecendo em nosso interior quando a compulsão ou o desejo nos atacam. O recurso central é a Oração de Jesus. Repetir o Nome ferventemente, implorando o auxílio de Deus, ajuda a diminuir as investidas do pecado. Repetir a oração quando nos sentimos inquietos, angustiados ou dispersos é um caminho para nos concentrarmos e unificarmos. O Nome de Jesus pode ser um recanto secreto, um espaço para nos refugiarmos nas adversidades. A repetição da frase escolhida nos momentos de queda e progresso se torna uma forma de aderir à vida e consentir à vontade de Deus.
O combate também exige fé, entendida como confiança em Deus e em sua presença. A fé nos dá a força para lidar com as tentaçõese para agir com confiança em Deus, expressando nossa intenção sem causar prejuízo. Adquirir fé requer adequar a vida aos ensinamentos de Jesus, reconhecer os pecados e ter firme determinação para mudar, ou seja, realizar a conversão (metanoia). A prática da ascese, ou sobriedade (nepsis), é imprescindível. Limitar o uso das coisas materiais e corporais ao necessário e assumir o controle sobre o corpo e a mente são fundamentais para sustentar o trabalho espiritual. Avaliar como estamos gerenciando o corpo, a mente e o modo de agir ajuda a identificar onde precisamos nos empenhar mais.
O reconhecimento da própria imperfeição e debilidade é um passo essencial. Um bom exame de consciência, confrontando-se com o Evangelho e reconhecendo as próprias faltas, é recomendado para iniciar o caminho. A compunção, que é a dor pela consciência do próprio pecado misturada com a alegria do perdão, mantém o coração tranquilo e nos dá força para não recair. Meditar sobre a própria fraqueza aumenta a consciência da necessidade contínua da presença e assistência de Deus.
A divagação mental contínua
O primeiro objetivo da oração é substituir a divagação pelo ato de rezar. Esse "permanente rumor profundo" pode ser silenciado pela repetição do Santo Nome. É necessário renunciar às próprias divagações mentais e suspeitar do valor delas. A oração de Jesus cria a distância necessária que permite ir ao centro de si mesmo. Este é um hábito criado por uma vida dispersa. Você se acostumou a ficar vagando no corpo e na alma. O hábito de ser “viajante” dos sentidos torna o processo difícil pela inércia que isso implica. “Todo ato que se repete cria em nós a tendência à repetição”. Isso é facilmente compreensível ao examinar os próprios vícios. Por exemplo, quanto mais se fuma, mais se quer fumar; o período de saciedade vai diminuindo. O bom dessa espécie de lei da inércia é que você pode usá-la a seu favor para acostumar-se a novos hábitos saudáveis para o corpo e para a alma. No caso da oração de Jesus, quanto mais você a repete, mais fácil será lembrar-se dela no futuro. A tendência é transformá-la em uma melodia constante que suaviza o fundo da mente em um ritmo que marca seus passos e suas atividades. Deixe de lado a preocupação com as diversas coisas que lhe acontecem. Em alguns momentos, será fervoroso; em outros, desmotivado; mais tarde repetirá a oração sem prestar atenção; em outro momento, vai recitá-la agradecido por uma graça recebida e vai passar a pronunciá-la cada vez que a angústia assolar sua alma. Não se julgue como bom ou mau aluno da oração de Jesus. Ela é um dom e um bem impossíveis de medir. Muitas vezes, você pode usá-la como calmante interior diante das inúmeras afrontas do mundo. Outras vezes, como a fonte que lhe dá as forças necessárias para realizar com entusiasmo seu empreendimento. Que a oração de Jesus seja como uma bandeira que se hasteia sempre em sua alma ao amanhecer. Ela assinala sua filiação, sua identidade profunda. Logo, você já vai cumprir as tarefas exigidas no dia a dia, mas com a bandeira fincada ali, movida pela brisa de suas intenções, assinalando a firmeza de seu coração.
O apego e a identificação com os próprios pensamentos
Do ponto de vista da psique, quem abraça essa oração tem de ir se despedindo dos pensamentos. Quem se aprofunda nessa oração não volta mais atrás. É necessário refletir antes de adotá-la. Ela aumenta a própria consciência de tal maneira que a pessoa se sente pequena, necessitada ao extremo da ajuda divina, e a presença de inúmeras debilidades fica evidente. Do ponto de vista da psique, quem abraça esta oração tem de ir se despedindo dos pensamentos. A principal dificuldade não está em acostumar-se com a oração, mas em renegar os pensamentos. Isso acontece porque costumamos nos identificar com o discurso da mente.
O conformismo com a própria vida espiritual
Quem é muito apegado aos próprios pensamentos não deveria iniciar este caminho. Nem quem está conformado com sua vida espiritual. Este caminho é para aqueles que ainda não encontraram Deus, para os que não se sentem satisfeitos com seus progressos. para os que, às vezes, sentem que fracassam continuamente em seus empreendimentos. E é útil para estes não necessariamente porque as coisas vão mal, mas porque não se sentem realizados em nenhuma atividade. O Senhor nos chama por diversos caminhos, e todos são adequados para cada pessoa. Para essa via, também há um chamado. Frequentemente manifesta-se como uma inclinação do coração para a simplicidade. Como um desejo de silêncio e de evitar complicações. E também como um crescente amor a Cristo Jesus e uma admiração profunda por Ele. Por isso, como primeiro passo, é preciso acostumar a mente à oração.
A falta de determinação e a dificuldade em manter a constância
Para progredir, não é necessária fadiga ou dor, mas sim uma firme determinação, uma decisão clara de atingir a meta. Se quiser, é a mesma determinação que os estudantes adotam antes de uma prova. Pergunte aos grupos de estudantes que você conhece: quantas horas estudaram antes de serem aprovados naquela matéria? Você verá que foram muitas. Assim também deve-se perguntar no seu caso: quantas horas seguidas de oração foram realizadas? Você verá que, em geral, o esforço aplicado para permanecer em oração não foi tão grande. É preciso ter a mesma convicção na repetição da oração que os estudantes têm ao se dedicarem aos estudos. A constância é grande parte do que seremos. Manter uma rotina mínima de oração vai criando o hábito da oração de Jesus.
A contradição interior e a incoerência entre o que se sabe/crê e o que se faz
A oração contínua unifica totalmente, livrando-nos da contradição habitual. A oração de Jesus permite que sejamos coerentes com o mandamento principal ensinado pelo Evangelho e essa recordação contínua do Santo Nome não ocorre se não amarmos a Deus acima de todas as coisas. Quanto à angústia, ao descontentamento e outras coisas mais, as causas com certeza não decorrem da oração. Talvez a oração possibilite tomar consciência desses estados. Ao contrário, as causas da angústia são decorrentes de contradições interiores não resolvidas.
Uma pessoa pode ter clareza do que deve fazer, mas faz outra coisa. E isso em qualquer instância da vida. Nós nos esquecemos de que nossa existência e tudo o que somos, pensamos, sentimos e fazemos, tudo o que temos concebido ou imaginado, enfim, toda a existência nos foi concedida gratuitamente, contém um sentido profundo, que ultrapassa nossa compreensão, e está muito além daquilo do que nos foi revelado e que aceitamos. Então, como nos esquecemos disso, nos lamentamos, nos frustramos por querer coisas impossíveis, vivemos entediados.
Nosso estado é semelhante ao da pessoa que, morando em uma casa que lhe foi generosamente emprestada, reclama com quem a emprestou da mancha e dos defeitos do piso. O fastio, o aborrecimento, a sensação de frustração, esgotamento e angústia, a ansiedade e outras emoções são muito úteis. Todas essas sensações nos alertam para percebermos que não estamos atentos à presença do Senhor. Sentir essa presença não é apenas “saber que Deus existe”, mas sentir sua presença no olhar, no ar e nos acontecimentos que nos falam com sua linguagem particular e nos mostram que o Senhor continua sua obra de redenção de tudo e de todos.
Deus existe, vive e está presente. Você bem sabe que é nele que nos movemos e existimos. Isso deve ser uma experiência pessoal permanente e não algo ocasional, fugaz e que não é repetido. Quando se repete o Nome, torna-se mais intensa a presença de Cristo, que jamais se ausenta. Por que isso acontece? Porque consinto sua presença. Acolhendo-a, ela se realiza e consigo ir além daquilo que meu ego julga conveniente. A purificação vai se produzindo pela ação da graça.
Em relação ao posicionamento pessoal. É necessário um trabalho de unificação pessoal que requer certo desapego interior de si mesmo. Isso deixa o campo liberado, e a pessoa se situa em um clima mais tranquilo, mais favorável à meditação e ao silêncio.
Essa unificação é como a separação interior do trigo e do joio, e isso leva a pessoa a agir de acordo com si mesma. Isso é muito útil e necessário para todos; porém, é muito mais importante para quem pretende meditar ficando em silêncio.
Vou dar um exemplo bem comum. Uma pessoa é cristã, pratica sua fé e, ademais, pretende ser cada vez mais fiel ao ensinamento de Cristo. Apesar dessa sua disposição interior, em sua vida cotidiana, essa pessoa é um empresário que paga mal seus empregados. É quase um explorador, paga menos do que deveria, contrariando inclusive os próprios critérios administrativos. Isso significa que essa pessoa está vivendo uma contradição entre sua mente e seu coração. E acaba gerando uma grande fonte de inquietação. Ela não vai conseguir chegar ao estado de silêncio enquanto não conseguir, em seu interior, adequar sua prática empresarial à sua moral religiosa.
Uma breve reflexão faz-se necessária para que cada um possa traçar pelo menos um plano de correção da própria vida, a fim de aumentar a coerência entre o Evangelho e seu cotidiano. O fato de propor a si mesmo metas claras de mudança já o leva a uma conciliação interior, mesmo que a tarefa ainda não tenha sido terminada. “Saber o que tenho que fazer”. Isso já produz tranquilidade. Essa clareza já é um princípio de unificação e facilita a meditação, que para nós é também um modelo de oração.
Dessa forma, a oração de Jesus deve ser usada antes, durante e depois das sensações e divagações. Serve para todos e em todas as situações.
Se eu estou disperso e com inquietações, repeti-la suavemente é um caminho para ir me concentrando e unificando na fé em Jesus. Aos poucos, vou me colocando na presença da minha fé, que já existia, mas se encontrava esquecida no fundo de minha alma.
Se, ao contrário, estou caminhando para uma conciliação comigo mesmo e já me encontro de alguma maneira unificado, a oração de Jesus me conduz paulatinamente ao silêncio mental e corporal, a uma situação benéfica de apaziguamento das paixões, que é o pórtico do silêncio.
Se já me encontro fortalecido na fé, se minha vida diária é uma crescente convivência com Cristo e com sua presença redentora em mim e nos outros, a oração de Jesus seria apenas uma chave que me abre a porta para o espaço e o tempo do silêncio místico; seu sentido é misterioso; algo para viver, não para dizer.
O tédio, a insatisfação e a sensação de vazio interior
Nos primeiros passos, a tentativa de concentrar a mente pode intensificar a agitação interior e causar tristeza, insatisfação ou vazio. Tais sentimentos ocorrem quando a mente divaga, podendo surgir ocasionalmente emoções e vivências como consequência das imagens que vão se sucedendo, tal como acontece quando vemos um filme ou lemos um romance. A oração de Jesus, quando repetida com determinação, impede a tendência à dispersão, diminuindo a produção de fantasias e desvarios interiores. Não significa que a oração seja enfadonha ou produza sonhos; ao contrário, ela nos faz perceber aquele tédio que habitualmente sentimos quando nos deixamos guiar pelo exterior. Esse tédio costuma ficar dissimulado pelas constantes expectativas e diálogos mentais que nutrimos acerca de tudo e de todas as coisas.
De modo semelhante, A sonolência ocorre quando uma pessoa não percebe que tem a fonte do gozo interior em si mesma, isto é, tem Deus no coração. Muitos santos conhecidos ao longo da História foram pessoas de grande bravura e vigor que enfrentaram circunstâncias difíceis, vencendo o temor e as próprias paixões. Concentraram toda a força de sua espiritualidade em perseguir o que lhes parecia a vontade de Deus. Isso não tem nada de enfadonho nem de frieza.
Em relação ao vazio interior, pode acontecer de, quando realizar a meditação em silêncio, ser tomado por uma espécie de inquietude. Nesse caso, não se deve suportar e persistir, porque isso acarretaria uma memória negativa que levaria você, no futuro, a não querer mais nem ouvir falar em meditação. A primeira coisa que deve perguntar é por que está nessa situação de ter de buscar a meditação procurando o silêncio. Suponho que se sente chamado ou atraído para esse tipo de atividade e que não se trata de algo que lhe foi imposto ou que alguém lhe impôs. Se for assim, eis o que pode fazer ao sentir essa inquietação: dar-lhe atenção. Busque interiormente a fonte dessa inquietação. Ela pode estar localizada em algum ponto de seu corpo: uma tensão, um prurido ou algum tipo de moléstia. É muito provável que encontre a origem da inquietação em algo que o preocupa ou que está em desacordo com sua psicologia, com seu interior. A falta de harmonia com si mesmo é uma das principais fontes de inquietação.
Prestar atenção àquilo que o inquieta não o levará à meditação silenciosa, porém será possível se você estiver em certo estado de alteração psíquica. A inquietação pode derivar de alguma situação peculiar anterior. Não estou me referindo à nenhuma introspecção profunda, na linha da psicanálise, quando a pessoa começa a discorrer sobre os próprios problemas, chegando inclusive a conversar com os outros a respeito deles. Este é outro tipo de atividade não muito aconselhável para quem se sente chamado ao silêncio. Na verdade, estou querendo dizer que nem todas as pessoas podem pôr-se a meditar em silêncio ou a aspirar a um estado de silêncio. Talvez esse estado seja um passo posterior. Entretanto, para algumas pessoas poderia ser mais útil começar por outro viés.
As quedas frequentes, tendências, hábitos vícios e pecados
Como extirpar o hábito de fazer o mal? Como combater a compulsividade que de repente nos escraviza com reações alienadas? Precisamos ter claros nossos principais inimigos e situar-nos diante do que mais nos afasta de Deus, enfrentando o combate resoluta e firmemente.
“Na atenção está o poder de resistir a tudo que possa acontecer”, diz o monge Nicéforo em Filocalia. E é verdade. Essa atenção deve estar sempre de prontidão para nos advertir da direção errônea da mente tão logo se manifeste. O pecado, a queda e o vício iniciam-se antes mesmo de sua consumação. É em certa lassidão da alma que encontramos a raiz do problema.
A derrocada da alma ou o tropeço vem como consequência de um estado de carência interior que se manifesta em geral como angústia, inquietação, aborrecimento ou tensão. O corpo e a mente sofrem com essa situação e buscam alívio mediante a realização de atividades para descarregar a ansiedade ou pelo menos para anestesiá-la temporariamente.
Assim, deparamos com diversos vícios que têm um denominador comum: o nervosismo interior. No momento em que a compulsão e a vontade de realizar nossos desejos nos atacam, temos de envidar nossos melhores esforços para aumentar nossa atenção e observar o que está acontecendo conosco.
Não será na fuga para o pecado e o vício ou com hábitos tendenciosos que encontraremos alívio à tensão que tantas vezes aniquila o espírito; ao contrário, devemos nos voltar profundamente para nós mesmos, escrutando com muito cuidado a dor que desejamos acalmar.
Esse momento decisivo é semelhante ao deserto de Jesus e às tentações que enfrentou. Deserto porque nos despoja do prazer que perseguimos para esquecer o sofrimento e o desassossego. Deserto porque nos coloca adiante da verdade. Este é um momento que, se bem aproveitado, rende muitos frutos à alma. É necessário, portanto, seguir o exemplo de Jesus quando atravessou a multidão (cf. Lc 4,28-30). Temos de passar enfrentando as diversas tentações que nos assolam sem fugir delas.
Se permanecermos atentos ao que acontece em nosso interior e repetirmos a oração de Jesus, com o fervor necessário, implorando o auxílio de Deus para nos despojarmos do velho que vive em nós, veremos que em pouco tempo as investidas diminuem.
Proponho-lhes uma prática infalível: se vocês estão prestes a cair à beira de uma situação que tanto queriam afastar de suas vidas, repitam logo a oração de Jesus várias vezes. No mínimo, umas vinte ou trinta repetições serão necessárias para que o Espírito que clama dentro de nós se imponha ao pecado (Gl 4,6-7).
Tal atitude de atenção essencial e de oração decidida permite que se abra em nós a possibilidade da libertação diante do determinismo da carne.
Com atitude reflexiva, examinemos nossos inimigos diários e alimentemos o desejo de vencer; disponhamo-nos a enfrentar a tensão íntima, não fugindo do problema, mas enfrentando-o com fé.
Primeiramente, devemos invocar Jesus Cristo com o fervor, pois Ele nos traz o desejo de não cair; depois, devemos elevar a atenção à própria alma, examinando aquilo que nos inquieta, enquanto relaxamos o corpo o máximo que pudermos.
Quero realmente superar o velho que habita em mim? Estou disposto a realizar algum esforço para que a graça me transforme? O momento do combate é exatamente aquele instante em que, para tentar esquecer nossa dor íntima, queremos abraçar o prazer fugaz. Então, é preciso fazer uma escolha e exercitar nosso livre-arbítrio.
É muito diferente a vida de quem busca um prazer atrás do outro, procurando anestesiar as feridas, daquela de quem, crescendo espiritualmente, apega-se ao bem-estar da alma com entusiasmo e independência.
Além disso, para manter o entusiamo e o desejo vivo pelo progresso espiritual, convém fazer algum voto ou proposta. Há vários cristãos que, ao longo da História, fizeram votos e promessas ao Senhor perante a comunidade dos fiéis. É comum que os religiosos consagrados façam seus votos perante o bispo de maneira solene e pública; há outros que fazem votos temporários e há também os que os pronunciam de maneira privada perante o orientador espiritual ou diante dos membros de sua irmandade ou do grupo de leigos. Também há votos solitários, que pertencem ao âmbito da espiritualidade pessoal e, como os outros, servem para marcar um rito ou recordar e assinalar um ponto de inflexão, fixando no peregrino uma marca de identidade profunda. A formulação dessas promessas costuma ser precedida por um período de preparação com vistas a uma consagração maior. É um tempo de recolhimento para juntar energia visando à meta almejada, que constituirá uma decisão sólida. Atualmente, a pessoa não se satisfaz com o grau de união com que já vive com aquele que ama. Trata-se de uma necessidade subjetiva difícil de explicar e que, para a razão, pode parecer desnecessária. Se Deus, em sua onipotência, não precisa de nós, os votos feitos só servem para quem os faz.
O entusiasmo aviva e realça a fé, mas a continuidade de um propósito não depende só desse impulso. Não adianta prometer coisas grandiosas para depois fracassar nas pequenas; basta assegurar essas pequenas certezas e avançar aos poucos. Deve-se procurar um compromisso com áreas mais necessitadas e realizá-lo com inteligência. Suponhamos que uma pessoa seja afetada pelo hábito da gula. Seu voto não deveria porque isso resultaria inevitavelmente em uma fase de desânimo espiritual; no entanto, por exemplo, poderia ser viável suprimir-lhe a sobremesa.
Essa mesquinhez ou humildade aparente da promessa não será apreciada pelo ego, em geral preocupado com as coisas grandiosas, o que demonstra uma tendência a tornar escassos os bons propósitos, trocando-os por exaltações passageiras que logo se transformam em quedas dolorosas. Há duas ou três propostas precisas, simples e possíveis de ser executadas, mas pequenas; porém, talvez, ainda que não sejam próprias da alma, podem ser de grande valia para o início de uma nova etapa no caminho do Nome.
Sabemos a utilidade de acostumar o corpo a uma ascese que só se preocupa com o necessário. Compreendemos o proveito de manter uma rotina mínima de oração que vai criando o hábito da oração de Jesus, ao contrário da divagação contínua de nossas mentes. Percebemos o benefício de executar ações atendendo à presença divina e de fazer as coisas com espírito litúrgico. Se alguém quiser fazer votos consigo mesmo, sozinho ou diante do Senhor, talvez leve em consideração estes três quesitos (o corporal, o mental e o comportamental) e possa extrair deles suas intenções, que, como oferendas, serão depositadas no altar do coração a quem devemos tudo o que somos.
A dificuldade em discernir a vontade de Deus e a inclinação à vontade própria ou egoismo
A dificuldade em discernir a vontade de Deus muitas vezes deriva de contradições interiores não resolvidas, do egoísmo e das motivações distorcidas escondidas sob a aparência de boas ações. Nossa mente errante, os diálogos internos constantes e a divagação mental nos manipulam e nos tornam escravos, dificultando a percepção do que realmente acontece e do que vem de Deus. As fontes sugerem que tendemos a nos identificar com o discurso da mente e a acreditar que as coisas dependem exclusivamente do que fazemos ou que a tensão ajuda a alcançar nossos desejos, o que alimenta a preocupação e obscurece o discernimento.
Para discernir a vontade de Deus, é necessário compreender se o pensamento e atitude condizem com os evangelhos:
- O critério da violência: se o modo de agir ou o resultado é violento, não está de acordo com a vontade de Deus, pois a violência manifesta o egoísmo.
- O critério da presença: agir considerando o que seria do agrado de Deus, perguntando-se se faríamos isso se o Senhor estivesse conosco. Com a prática, a consciência de Sua presença torna a pergunta desnecessária.
- O critério da motivação: examinar o que buscamos com a ação e para quem a fazemos; o verdadeiro valor está na intenção por trás da ação, buscando a pureza do coração e o bem dos outros, evitando agir por satisfação pessoal ou revanche. Às vezes a pessoa fica envolvida com seus afazeres e esquece a necessária reflexão. Devemos evitar que nosso ato seja uma mera reação a um estímulo, porque nesse caso a motivação é bem duvidosa. É imprescindível manter certa distância entre o estímulo e a resposta se pretendemos agir de forma bem-intencionada e adequada.
- O critério da paz: se a ação está de acordo com a vontade divina, a paz interior é inabalável, mesmo que implique esforço ou sofrimento. A sensação de estar fazendo o certo traz essa paz, que vai além dos resultados no mundo.
Além disso, é evidente que qualquer pensamento ou ação que façamos deve levar em conta a lei de Deus e da Igreja, por isso, caso o que pensamos em fazer contrarie alguma dessas coisas, então isso vem do espírito humano, do mundo ou do demônio.
Uma fé forte e a confiança em Deus são indispensáveis. A fé é a força espiritual que se une à força de Deus, permitindo seguir os ensinamentos de Cristo e correr os riscos inerentes ao Evangelho. A fé se manifesta como uma inclinação do coração e é fortalecida pela escolha consciente. Viver na confiança em Deus é uma atitude importante que cria um clima propício para a oração. Quando a inquietação e a ansiedade surgem, em vez de usá-las para o discernimento, deve-se focar a atenção na oração de Jesus no fundo da mente e do coração; a luz surgirá e o coração se inclinará na direção correta. A oração de Jesus é, acima de tudo, um repouso no Nome, a confiança de depositar nEle todas as nossas preocupações, o que significa permanecer em Cristo.
A falta de fé e o temor diante dos desafios
A dificuldade em lidar com a falta de fé e o temor diante dos desafios pode ser abordada através da prática da Oração de Jesus, que, conforme os excertos, é intrinsecamente ligada à fé e provê força interior para enfrentar as adversidades. A Oração de Jesus é descrita como um ato de fé no Nome de Jesus Cristo, em sua presença viva entre nós, em sua força salvadora e transformadora da alma humana. Essa fé é a força espiritual do homem que se une à força de Deus, à sua graça e ao seu desígnio. Viver os ensinamentos de Cristo requer fortalecer a fé, que nos permite correr os riscos inerentes ao Evangelho.
Ao praticar a Oração de Jesus, especialmente repetindo o Santo Nome com fé e devoção, ou pelo menos com atenção, a presença real de Cristo torna-se manifesta no coração, tornando-se uma luz contínua. Essa presença proporciona paz e confere à pessoa força suficiente para lidar com os estímulos e as reações do mundo. A oração não causa inércia, mas promove a ação transformadora. Ela livra-nos de mil males, doenças e perigos, enche o coração de paz, de alegria, de consolação e oferece força e coragem.
Diante da inquietação, angústia, dispersão ou momentos de luta interior, vícios, pecados, quedas frequentes, a prática recomendada é recorrer à oração de Jesus . Se estiver prestes a cair em uma situação que deseja evitar, repita logo a oração de Jesus várias vezes, sendo necessárias umas vinte ou trinta repetições para que o Espírito se imponha ao pecado. Quando a inquietação e a ansiedade surgirem, em vez de usá-las para o discernimento, deve-se focar a atenção na oração de Jesus no fundo da mente e do coração. Essa atenção essencial e oração decidida permite que se abra em nós a possibilidade da libertação. A luz se fará, e o coração se inclinará na direção correta. A Oração de Jesus pode ser feita em qualquer momento ou estado interior.
Viver na confiança em Deus é uma atitude importante que cria um clima propício para o desabrochar da oração. A Oração de Jesus é, acima de tudo, um repouso no Nome, a confiança de depositar n'Ele todas as nossas preocupações. Exemplos de santos, como São Pedro, São João e outros, mostram como a invocação do Nome de Jesus trouxe cura, libertação e força para enfrentar perseguições, torturas e desafios. A constância que os mártires hauriam no Sagrado Nome de Jesus é um fato repetidamente verificado. O Nome de Jesus é Oração Infalível, e tudo quanto pedirmos ao Pai em Seu Nome havemos de receber.
Uma fé vacilante não permite seguir os ensinamentos de Jesus nem correr os riscos inerentes ao Evangelho. Assim como a aplicação no estudo leva à aprovação, a convicção ao repetir a oração é necessária para alcançar a paz imperturbável. Para fortalecer a fé, é preciso adequar nossa vida aos ensinamentos de Jesus, reconhecer nossos pecados e ter firme determinação para mudar. Se estiver disperso e com inquietações, repetir a oração de Jesus suavemente é um caminho para ir se concentrando e unificando na fé em Jesus . Essa prática conduz gradualmente ao silêncio mental e corporal e ao apaziguamento das paixões. Se a pessoa já está fortalecida na fé, a oração de Jesus se torna uma chave que abre a porta para o silêncio místico. A ação despreocupada, que nasce da confiança em Deus, nos introduz na ação correta, e a atitude confiante e a respiração profunda caminham juntas.
Frutos espirituais e transformação
Um dos frutos primordiais da oração é a progressiva unificação da mente, substituindo a divagação constante pela repetição do Santo Nome. Inicialmente, a mente move-se incessantemente, como uma pluma levada pelo vento, mas a repetição do Nome de Jesus Cristo pode silenciar esse rumor profundo em pouco tempo. Quando a oração se torna um hábito mental, abrem-se as portas para novas etapas de aprofundamento, adoração, silêncio e contemplação. Ademais, a prática intensa da oração possibilita a experiência pessoal do Espírito Santo, fazendo experimentar o transcendente no cotidiano. Ela convida a colocar o corpo, templo do Espírito Santo, a serviço dos outros e da elevação espiritual . Isso requer uma ascese corporal, uma estrutura de moderação mínima que não seja contrária ao crescimento espiritual, limitando-se ao necessário e evitando o supérfluo
A oração de Jesus também aprimora a percepção do que ocorre ao redor, ajudando a perceber o "outro" com mais profundidade e aumentando a consciência do próprio mundo interior. Como em um espelho, ficam evidentes as motivações escondidas sob a aparência das boas ações. Embora essa nova consciência de si mesmo possa ser difícil, o texto encoraja a perseverar, polarizando a alma em torno da presença de Jesus. Com o tempo, essa oração transforma-se em uma forma de viver na presença do Senhor, mudando radicalmente a vida do praticante. A pessoa se sente pequena, necessitada da ajuda divina, e a presença de inúmeras debilidades torna-se evidente. No entanto, essa consciência da miséria e da condição humana incompleta, unida à repetição da oração, torna-se um terreno fértil para o crescimento espiritual
À medida que o caminho se modela, a pessoa começa a encontrar o seu coração interior, a morada onde habitam Cristo e a plenitude da graça. Uma experiência pessoal de Cristo no coração varre para longe indagações e dificuldades, constituindo um novo nascimento. Nessa experiência mística profunda, os opostos se conciliam, e a pessoa adquire um conhecimento direto do que passa a ser vivido como a verdade do ser e das coisas. Acontece uma conversão pessoal e íntima, alterando o olhar, o modo de ser, as sensações, as decisões, trocando a simples suposição pela certeza indiscutível. Aqueles que vivem nesse estado, em Cristo com a força do Espírito Santo, "veem" o Pai em todas as pessoas e coisas. A luta contra os desejos da carne e o ego diminui, pois encontraram a "pérola" e desfrutam continuamente de sua beleza, vendo os prazeres mundanos como uma leve sombra do verdadeiro gozo.
A oração de Jesus, ao ser repetida com fé, revela a existência de Deus como uma evidência, não um enigma, e a pessoa vive em um mundo maravilhoso, onde a bondade divina se torna eloquente. Essa prática também leva a uma clara distinção entre o que é essencial e acessório, simplificando a vida. Há apenas duas ou três coisas relevantes e que fazem sentido, permitindo concentrar as energias no que realmente importa. Ao se dispor a essa ascese, a pessoa se prepara para um trabalho intenso que, com o tempo, torna a oração tão vital quanto respirar. Torna-se real a certeza de que o Reino está aqui. A oração de Jesus é um ato de fé no Nome de Jesus Cristo, em sua presença viva, força salvadora e transformadora. Ela se consolida à medida que a fé cresce, fazendo com que cada jaculatória se transforme em ato de fé pelo poder do Nome que está acima de qualquer nome. A fé, nesse contexto, é vista como uma força, um ato próprio do coração que se propaga por tudo o que se vê, se toca e se faz, unindo a força humana à força de Deus.
Outro fruto da oração é a conquista da serenidade (hesiquia) e da impassibilidade (apateia). A impassibilidade não é indiferença, mas uma paz imperturbável, mantendo o coração repleto de energia vital. Mesmo diante das adversidades, o praticante mantém a paz do coração. A oração de Jesus é um caminho rápido que, seguido corretamente, produzirá frutos tangíveis, embora a consolidação possa levar tempo. Atravessar períodos de tédio ou sentir agitação interior é parte do processo inicial, mas não deve causar desânimo, pois a evolução continua no nível espiritual. Os primeiros frutos são singelos: a pessoa se torna melhor, a graça age de modo imperceptível, melhorando o trato com o próximo, diminuindo a angústia e a necessidade de coisas materiais, e tornando o silêncio não ameaçador.
A oração de Jesus também se manifesta em ações concretas. Há um modo específico de agir que se assemelha a uma liturgia, caracterizado pela máxima atenção. Trata-se de agir segundo o Espírito, usando corpo e mente conforme a missão para a qual foram criados, a partir de um interior não alienado. Praticar a oração como um modo de "colorir" tudo o que se faz transforma cada atividade em uma forma de oração, crescendo e firmando-se com o tempo. Mesmo atividades simples se tornam significativas nessa celebração pessoal. Agir com concentração, serenidade, atenção, precisão e nitidez, mantendo a paz de Cristo em si, reflete essa mansidão de espírito nas ações.
Em suma, a oração de Jesus transforma a vida ao silenciar a mente errante, trazer paz e refúgio, fortalecer interiormente o praticante, reorientar o corpo para o serviço divino, aprimorar a autoconsciência e a percepção do sagrado no mundo, aprofundar a fé e a confiança em Deus, e culminar na experiência mística da presença de Cristo no coração. É um caminho que exige renúncia, perseverança e humildade, mas que conduz à unificação da alma, à impassibilidade e a uma vida radicalmente transformada pela graça e pelo amor a Deus.
O caminho para o coração de Cristo
Com efeito, o caminho para o coração de Cristo, segundo as fontes apresentadas, é intrinsecamente ligado à prática da Oração de Jesus, também conhecida como oração do coração. A evolução nessa devoção começa com a tomada de consciência da própria mente errante, desse movimento incessante de pensamentos e diálogos internos. O primeiro e fundamental objetivo é substituir essa divagação pelo ato de rezar, buscando a unificação da mente em torno do centro estável que é o Santo Nome de Jesus Cristo. Para habituar a mente a essa nova disciplina, o praticante pode começar de diversas formas, como repetindo a oração por escrito, acompanhando o ritmo dos passos, pronunciando-a com os lábios, cantando, ou buscando a repetição lenta em quietude. O essencial é encontrar uma porta de entrada pessoal e integrar a oração nos momentos cotidianos, especialmente ao despertar, em pausas e diante da inquietude.
No plano mais profundo, a devoção para o coração de Cristo frequentemente se inicia na angústia e na consciência do próprio pecado. Uma ferramenta essencial nesta etapa é o exame de consciência, olhando para as faltas sem disfarce e confrontando-se com o Evangelho. A suave dor do arrependimento (metanoia) e a compunção do coração criam um campo fértil para o crescimento da oração. A oração atua como uma "chave" que abre um espaço de silêncio interior e possibilita a unificação interna, que consiste em resolver as contradições entre a crença e a ação. Estabelecer metas claras de mudança na própria vida é parte deste processo de unificação, trazendo tranquilidade. Uma prática vigorosa da Oração de Jesus fortalece este trabalho interno, auxiliando a lidar com o ego e as paixões
A fé é também um pilar fundamental na evolução. A Oração de Jesus é um ato de fé no Nome de Jesus Cristo, em sua presença e poder. A oração só se consolida na pessoa quando cresce como um ato de fé, permitindo que ela chegue ao coração. Cada repetição, pelo poder do Nome, transforma-se em um ato de fé.
Embora todo lugar seja propício para a oração, a criação de um espaço dedicado em casa para momentos de recolhimento é considerada muito útil e necessária. Este pequeno oratório, com uma disposição pessoal, deve facilitar o contato com o sagrado. O uso de imagens, como ícones, pode servir como ponto de apoio para elevar o espírito, desde que evoquem afeto e ressoem interiormente.
Portanto, o percurso da Oração de Jesus é um trabalho intenso que pode levar vários anos. Pode haver períodos de tédio ou sensação de bloqueio, mas não se deve desanimar, pois a evolução espiritual continua, mesmo que não seja perceptível nos sentidos externos. A perseverança leva a uma transformação sutil, porém contínua. Os "primeiros frutos" dessa prática incluem uma diminuição das necessidades materiais, um aumento da atenção e da clareza, a capacidade de distinguir o essencial do acessório, e uma crescente paz interior. Com o tempo, a Oração de Jesus se torna tão essencial quanto respirar, enraizando a vida na certeza da presença de Deus no coração.
Conclusão
Chegando ao final desta exploração sobre a Oração de Jesus, vemos que ela é muito mais do que uma simples fórmula; é uma "via especial", um "caminho espiritual que traz paz ao coração"e que "muda radicalmente a vida do praticante". Nascida nas primeiras comunidades cristãs e conhecida também como "oração do coração", é uma prática antiga do Oriente cristão que hoje se encontra muito difundida em nosso hemisfério.
Sua essência reside na simples, mas profunda, invocação do Santo Nome de Jesus, muitas vezes na forma completa "Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tende piedade de mim, pecador!". Este Nome "acima de todos os nomes", é um ato de fé na presença viva de Jesus e em sua força salvadora e transformadora. A oração, frequentemente unida à respiração, ajuda a unificar a mente e o coração, servindo como um refúgio em meio às tormentas do mundo e da própria mente errante.
Iniciar-se nesta oração muitas vezes acontece na "angústia" e no "reconhecimento da própria ignorância e debilidade", necessitando da "consciência do próprio pecado". Contudo, a prática assídua traz paz à alma, promove a ação transformadora, revela o nosso mundo interior e nos permite encontrar o coração interior, morada onde habitam Cristo e a plenitude da graça. É um "caminho rápido" para o coração, embora exija perseverança e um trabalho intenso.
O Santíssimo Nome de Jesus não é apenas uma devoção fácil e consoladora, mas possui "imensa consolação", torna a fé "mais fervorosa, mais viva e mais robusta", e é descrito como "a devoção de mais alta eficácia e de grande alcance". Através da invocação do Nome, os santos realizaram milagres e prodígios, e nos é assegurado que "Tudo quanto pedirdes ao Pai em meu Nome haveis de receber", sendo uma "Oração Infalível". Recitá-lo dá grande glória a Deus, alcança grandes graças para nós, livra-nos de males, doenças e dores e afasta o demônio. É um "bálsamo divino" que cura as chagas da alma.
Portanto, não importa onde você esteja em sua jornada espiritual, se busca "a paz do próprio coração", a unificação da alma, a força para lidar com os desafios, ou simplesmente sentir a "presença viva da pessoa divina", a Oração de Jesus é um convite aberto. É uma "chave que abre um espaço de silêncio interior", uma forma de "viver na presença do Senhor"e de "repousar no Nome". Não hesite! Comece hoje mesmo a invocar o Santíssimo Nome de Jesus. Repita-o com fé, com o coração, e permita que Ele transforme a sua vida, trazendo a "plenitude da graça" e a "verdadeira paz".
Resumo
- A Oração de Jesus, também conhecida como oração do coração, é um caminho ou vocação espiritual enraizado nas primeiras comunidades cristãs. Centra-se na invocação do Santo Nome de Jesus e serve como refúgio que traz um espaço de calma em meio às tempestades e agitações do mundo contemporâneo e da própria mente. É afirmada como uma devoção de eficácia máxima e grande alcance.
- Sua essência está na repetição sistemática de uma frase ou palavra que inclui o Nome de Jesus, como a forma tradicional: "Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, pecador!". O objetivo principal e claro é substituir a divagação mental pelo ato de orar e viver conscientemente na presença do Senhor.
- A oração é altamente adaptável: pode ser praticada a qualquer momento e em qualquer condição, incluindo sentado, em pé, caminhando, trabalhando ou até conversando. Pode ser repetida mentalmente ou oralmente e pode ser vinculada ao ritmo da respiração ou ao batimento cardíaco. A prática torna-se mais eficaz quando o que é dito corresponde ao que é sentido.
- Construir o hábito é importante, o que requer determinação firme e consistência. A quantidade de repetições ajuda a adquirir o hábito, mas o mais importante é desejar a graça da oração contínua e repetir o Nome com sentimento e afeto. Com a prática, a oração tende a se tornar uma melodia constante e suave no fundo da mente.
- Um grande desafio é superar a divagação constante da mente e nossa tendência a nos identificarmos com nossos pensamentos. Para combater isso, é preciso desconfiar do valor das próprias divagações e renunciar ou dispensar pensamentos. Substituir esse ruído mental pela repetição do Nome de Jesus é o método para silenciar o "rumor profundo" dos diálogos internos.
- Ao enfrentar agitação interior, angústia ou tentação, uma prática recomendada é repetir a Oração de Jesus com fervor. Repita a oração vinte ou trinta vezes para que o Espírito se imponha sobre o pecado quando se está perto de cair. Enfrentar lutas e tentações internas com oração e atenção, em vez de evitá-las, é frutífero.
- A prática exige uma ascese (disciplina) do corpo e das coisas materiais, limitando-se ao necessário e evitando o supérfluo, para apoiar o crescimento espiritual. Também transforma atividades diárias em uma forma de oração, incentivando a realização de tarefas com máxima atenção, serenidade, concentração e reverência, similar a um celebrante em uma liturgia, confiando na providência divina.
- A Oração de Jesus é fundamentalmente um ato de fé no Nome, presença viva, força salvífica e poder transformador de Jesus Cristo. A fé pode ser fortalecida alinhando a vida ao Evangelho e reconhecendo a necessidade de ajuda divina. Viver em confiança e repousar no Nome de Jesus é essencial para superar medos e ansiedades, trazendo clareza para o discernimento.
- A prática consistente leva a uma transformação gradual e frutos significativos, incluindo uma redução progressiva das necessidades materiais, maior autoconsciência (até de motivações e fraquezas ocultas), melhor percepção dos outros, uma vida simplificada que distingue o essencial do acessório, paz e serenidade interior (hesiquia), e um senso crescente da presença de Deus, tornando a oração tão vital quanto a respiração.
- A invocação do Nome de Jesus carrega virtude, eficácia e poder irresistível infinitos. Recitá-la com devoção traz grande prazer e glória a Deus e à corte celestial, alcança grandes graças para o praticante, repelindo o demônio, fornece proteção poderosa contra males, doenças e perigos, enche o coração de paz, alegria e consolo, fortalece a fé e é uma oração infalível, com Jesus garantindo que o que for pedido ao Pai em Seu Nome será recebido.