As verdades básicas do Catolicismo - A oração do Creio
Estudando a oração do Creio, a resposta católica à pergunta "Em que você acredita?"
Sumário
- Creio em Deus Pai todo-poderoso
- Criador do céu e da terra
- E em Jesus Cristo, seu único filho, nosso senhor
- Que foi concebido pelo poder do Espírito Santo
- Nasceu da Virgem Maria
- Padeceu sob Pôncio Pilatos
- Foi crucificado, morto e sepultado
- Desceu à mansão dos mortos
- Ressucitou ao terceiro dia
- Subiu aos céus
- Está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso
- Donde há de vir a julgar os vivos e os mortos
- Creio no Espírito Santo
- Na Santa Igreja Católica
- Na comunhão dos santos
- Na remissão dos pecados
- Na ressurreição da carne
- Na vida eterna
A oração do Creio, também conhecida como Símbolo dos Apóstolos, é uma síntese antiga e concisa da fé cristã. Sua primeira formulação é atribuída aos cristãos de Roma por volta do século II, tendo suas origens nas catequeses batismais da Igreja Romana.
Santo Ambrósio (séc. IV) o chamou de Símbolo dos Apóstolos por refletir a fé da Igreja dos apóstolos. Originalmente utilizado no batismo de adultos, onde o catecúmeno precisava proclamá-lo de cor, ele servia como um resumo fiel dos pontos essenciais das Escrituras. Ao longo dos séculos, os Concílios ecumênicos posteriores acrescentaram vários artigos para combater heresias, resultando na forma mais completa que conhecemos hoje.
É importante conhecer o Creio porque ele representa um resumo das verdades essenciais da fé cristã. Ele é um patrimônio de fé revelado por Deus, construído e compartilhado pela comunidade dos crentes. Ao professar o Creio, cada pessoa faz um compromisso pessoal e consciente com a fé, fortalecendo sua identidade cristã. Ele serve como um "mapa" ou "instrumento" para compreender as grandes realidades da fé, especialmente o mistério da Trindade, oferecendo a "ciência da fé" necessária para a salvação, ensinando o que se deve acreditar e orientando para a união com Deus. Além disso, o Creio é um instrumento precioso de anúncio e missão, conectando os fiéis à tradição viva da Igreja e fornecendo as razões da própria fé.
Dessa forma, é muito importante conhecer a fundo todas as proposições do Credo, tendo em vista que essa oração resumo tudo aquilo que nós, católicos, acreditamos e seguimos. Portanto, iremos analisar cada uma das orações do Credo. A análise do Credo Niceno será feita posteriormente em outro post com mais detalhes.
Credo
Creio em Deus Pai todo-poderoso,
Criador do céu e da terra.
E em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor,
que foi concebido pelo poder do Espírito Santo,
nasceu da Virgem Maria,
padeceu sob Pôncio Pilatos,
foi crucificado, morto e sepultado,
desceu à mansão dos mortos,
ressuscitou ao terceiro dia,
subiu aos céus,
está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso,
donde há de vir a julgar os vivos e os mortos.
Creio no Espírito Santo,
na santa Igreja Católica,
na comunhão dos santos,
na remissão dos pecados,
na ressurreição da carne
e na vida eterna. Amém.
Credo Niceno-Constantinopolitano
Creio em um só Deus, Pai Todo-Poderoso, criador do céu e da terra, / de todas as coisas visíveis e invisíveis. / Creio em um só Senhor, Jesus Cristo, Filho Unigênito de Deus, / nascido do Pai antes de todos os séculos: Deus de Deus, luz da luz, / Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, / gerado, não criado, consubstancial ao Pai. / Por ele todas as coisas foram feitas. / E por nós, homens, e para nossa salvação, desceu dos céus:
(aqui todos se ajoelhem)
e se encarnou pelo Espírito Santo, / no seio da Virgem Maria, e se fez homem.
(aqui todos se levantem)
Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos; / padeceu e foi sepultado. / Ressuscitou ao terceiro dia, / conforme as Escrituras, / e subiu aos céus, / onde está sentado à direita do Pai. / E de novo há de vir, / em sua glória, / para julgar os vivos e os mortos; / e o seu reino não terá fim. / Creio no Espírito Santo, / Senhor que dá a vida, / e procede do Pai e do Filho; / e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado: / ele que falou pelos profetas. / Creio na Igreja, una, santa, católica e apostólica. / Professo um só batismo para remissão dos pecados. / E espero a ressurreição dos mortos / e a vida do mundo que há de vir. - Amém.
Creio em Deus Pai todo-poderoso
A expressão "Creio em Deus" constitui uma afirmação fundamental que abre as portas ao "mundo infinito da relação com o Senhor e com o seu mistério". Crer em Deus implica adesão a Ele, acolhimento da sua Palavra e obediência jubilosa à sua revelação. Trata-se de um ato pessoal, resposta livre à autocomunicação divina. Dizer "Eu creio" no singular enfatiza o caráter pessoal da fé e a transformação da própria existência por meio desse dom. Significa alicerçar a vida em Deus e permitir que sua Palavra oriente as escolhas cotidianas. Esta profissão de fé pressupõe ainda a rejeição de qualquer outro deus, configurando-se como declaração de amor e entrega ao único Deus e Senhor.
O Significado de "Pai"
O título "Pai" carrega profunda significação. Deus é assim chamado pela relação singular que estabelece ao criar-nos à sua imagem e semelhança. Crer no Pai exige crer no Filho, sob a ação do Espírito, reconhecendo na cruz salvífica a revelação definitiva do amor divino. Como Pai, Ele nos oferece o Filho, perdoa nossos pecados e nos conduz à alegria da vida ressuscitada, concedendo-nos o Espírito que nos torna filhos e nos permite invocá-Lo como "Abba, Pai!". O próprio Jesus nos ensinou a rezar "Pai Nosso". O rosto último do Pai revela-se em plena luminosidade no Mistério Pascal, e sua grandeza como "Pai Todo-Poderoso" manifesta-se de modo supremo na cruz gloriosa.
A paternidade divina revela que toda a sua força se inclina a nós com condescendência, colocando-se a nosso serviço. A Igreja expressou esse paradoxo no Credo: Pai, mas omnipotente; omnipotente, mas Pai. Essa imagem evoca o pai ideal que toda criança deseja: terno e compreensivo, mas também forte e intrépido para defendê-la e fazê-la sentir-se livre e segura. Nas orações litúrgicas, ao mencionar "Deus" no início, refere-se frequentemente ao Pai, e as preces usualmente concluem "por Cristo, na unidade do Espírito Santo", refletindo uma compreensão trinitária da oração. Como observa uma fonte, no princípio de tudo está Deus, que é Pai e Mãe — Ser de amor puro, fiel em seu amor à humanidade.
"Todo-Poderoso": O Poder do Amor Divino
O atributo "Todo-Poderoso" expressa a fé no poder do amor de Deus, que, em seu Filho morto e ressuscitado, vence o ódio, o mal e o pecado, abrindo-nos à vida eterna como filhos que desejam permanecer para sempre na "Casa do Pai". Proclamar "Creio em Deus Pai todo-poderoso" — em seu poder e em seu modo de ser Pai — é sempre um ato de fé, conversão e transformação do pensamento, dos afetos e do modo de viver.
O Credo inicia qualificando Deus como "Pai Todo-Poderoso", ecoando o princípio bíblico do Gênesis, onde Ele é a origem de todas as coisas, e sua omnipotência paternal revela-se na beleza da criação. A verdade fundamental ali apresentada é que o mundo surge e se sustenta pelo "Logos, a Razão eterna de Deus".
Primeiro Artigo de Fé
Essa afirmação situa-se no início do Credo, marcando o primeiro artigo de fé. Declara a crença em um único Deus que governa e cuida de todas as coisas. Crer n’Ele significa reconhecer que toda a realidade está sob seu governo e sujeita à sua Providência. Desse fundamento deriva o reconhecimento de Deus como "Criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis". A criação é compreendida como o princípio e alicerce de todas as obras divinas, seu primeiro ato de amor para conosco.
Criador do céu e da terra
A afirmação "Criador do céu e da terra" é um aspecto fundamental da fé cristã, expressando a crença de que Deus é a origem última e sustentadora de toda a existência. Esta declaração está profundamente enraizada nas Escrituras e tem implicações teológicas significativas, conforme explicado nas fontes.
Em primeiro lugar, a frase está diretamente ligada à abertura da Bíblia: "No princípio, Deus criou o céu e a terra" (Gênesis 1:1). Isso estabelece Deus como a origem de todas as coisas. A expressão "céu e terra" é entendida como significando a totalidade de todos os seres, abrangendo tudo o que existe, tanto o visível (material) quanto o invisível (os anjos). Isso significa que nada existe independentemente do ato criador de Deus.
As fontes enfatizam que a criação de Deus é "do nada" (ex nihilo), um conceito frequentemente expresso pelo verbo hebraico "barah", que é usado especificamente na Bíblia para denotar a atividade causal de Deus, distinguindo-a da produção humana, que sempre depende de material pré-existente. Isso refuta a ideia de que Deus criou o mundo a partir de matéria pré-existente ou que o mundo é eterno. Como explica São Tomás de Aquino, os seres humanos precisam de material existente para construir, mas Deus, sendo a causa universal de todas as coisas, cria não apenas a forma, mas também a matéria em si. A declaração do Credo "Criador do céu e da terra" serve para eliminar esses erros.
Embora o Pai seja especificamente mencionado como "Pai Todo-Poderoso, criador do céu e da terra", o ato da criação é entendido como uma obra da Santíssima Trindade. O Pai é a origem, o Filho é aquele por quem todas as coisas são feitas, e o Espírito Santo é a causa da perfeição. O princípio de São Basílio ilustra isso: a origem de tudo é o Pai, que cria "por meio do Filho" e aperfeiçoa pelo Espírito Santo. O relato bíblico da criação no Gênesis também atribui um papel especial ao "Espírito de Deus pairando sobre as águas" (Gênesis 1:2). O Espírito é visto como aquele que traz ordem e perfeição ao mundo criado, transformando-o de caos em cosmos.
A criação não é um evento aleatório, mas um ato do amor de Deus. Ela demonstra Sua onipotência e bondade. Ao criar o universo, Deus inicia Seus desígnios de misericórdia e salvação e convida a humanidade a uma aliança eterna, tornando-nos Seus filhos em Cristo Jesus. Este ato de criação, que convida à comunhão com Deus, é um ato de puro amor e liberdade, sublinhando a origem e o significado da vida humana, respondendo a questões profundas sobre de onde viemos, para onde vamos, nossa origem e nosso objetivo final.
Além disso, o mundo criado serve como um meio para a humanidade conhecer e reconhecer a glória, a magnificência, o esplendor e a infinita grandeza de Deus. O Salmo 19 afirma que "Os céus narram a glória de Deus e o firmamento proclama a obra de suas mãos". Deus escreveu dois livros: as Escrituras e a criação, e esta última pode ser "lida" por todos, mesmo pelos analfabetos, revelando a beleza, a riqueza e a imaginação inesgotáveis de Deus. A resposta humana adequada a essa realidade criada é glorificar (doxazein) e dar graças (eucharistein) ao Criador, fazendo do louvor e da gratidão o verdadeiro oposto do pecado em relação à criação.
As fontes também abordam a relação entre a fé na criação e a ciência. Embora a Bíblia não pretenda ser um manual de ciências naturais, ela revela a verdade fundamental de que a origem e a estabilidade do mundo estão no Logos, a Razão eterna de Deus. A crença na criação consiste em reconhecer que o mundo teve um início através do ato criador de Deus, mesmo dentro do quadro dos processos evolutivos observados pela ciência. A perspectiva de Teilhard de Chardin sugere que Deus está no início e no fim da criação, com tudo criado em, por e para Cristo. Em última análise, as fontes destacam que fé e razão não são contraditórias, mas vêm do mesmo Deus.
Finalmente, a afirmação de Deus como Criador contrasta com a idolatria, onde as criaturas são adoradas em vez do Criador. Também se opõe ao cientificismo ateísta, que questiona se o cosmos foi planejado por alguém ou é meramente um produto do acaso e da evolução. Professar a crença em "Deus Pai Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra" é um compromisso fundamental que molda a compreensão cristã do mundo e o lugar do homem nele.
E em Jesus Cristo, seu único filho, nosso senhor
A afirmação "E em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor" é um pilar central da fé cristã, e as fontes fornecem ampla informação sobre seu significado e importância.
Primeiramente, esta frase segue a crença em um só Deus, o Pai Todo-Poderoso, criador do céu e da terra, estabelecendo o papel de Jesus Cristo neste contexto divino. É necessário aos cristãos crer não apenas em um Deus como Criador, mas também que Deus é o Pai e que Cristo é seu verdadeiro Filho. Esta verdade é apresentada não como mito, mas como certa e demonstrada pela Palavra de Deus, como no Monte da Transfiguração onde a voz do Pai declarou: "Este é meu Filho amado, em quem me comprazo". O próprio Jesus Cristo frequentemente chamava Deus de seu Pai e se referia a si mesmo como o Filho de Deus. A inclusão de Jesus Cristo como Filho de Deus é um artigo fundamental de fé.
O termo "seu único Filho" é crucial. Enquanto o título "Filho de Deus" foi às vezes aplicado no Antigo Testamento aos anjos, ao povo eleito, aos filhos de Israel e seus reis, significando uma filiação adotiva que estabelecia uma intimidade especial com Deus, no caso de Jesus Cristo as fontes enfatizam que Ele é Filho de Deus de modo único, por geração, não por adoção. O Credo Niceno-Constantinopolitano usa o termo "unigênito Filho de Deus", destacando que Ele é gerado do Pai antes de todos os séculos, Deus de Deus, Luz da Luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado, não criado, consubstancial ao Pai. O uso de "único" no Credo dos Apóstolos (unicus em latim) e "unigênito" no Credo Niceno (unigenitus em latim, "o único gerado") reforça esta relação distinta. Esta íntima relação é destacada nos Evangelhos, como durante o Batismo e Transfiguração de Jesus, onde o Pai O chama de "Filho amado". Até mesmo o centurião após a crucificação professou: "Verdadeiramente, este homem era o Filho de Deus".
A afirmação continua com "nosso Senhor". O termo grego para Senhor é "Kyrios" e o latim "Dominus", ambos sendo títulos divinos e traduções do hebraico "Javé". Portanto, chamar Jesus de "Senhor" O coloca no mesmo nível de natureza que Javé. Após Pentecostes, Pedro proclamou com certeza que Deus fez de Jesus, a quem crucificaram, tanto "Senhor (Kyrios) como Messias". A proclamação "Jesus é o Senhor!" é vista como o núcleo primordial do qual todo o kerigma e subsequente proclamação cristã se desenvolveram. Esta afirmação implica que Jesus morreu por nossos pecados e ressuscitou para nossa justificação, tornando-se assim Senhor tanto dos mortos como dos vivos. Subjetivamente, proclamar Jesus como "Senhor" significa uma decisão pessoal sobre o sentido da vida, reconhecendo-O como mestre e aquele que tem todos os direitos. A fé da Igreja primitiva, imediatamente após a Páscoa, centrava-se em "Creio em um só Senhor, Jesus Cristo".
O Credo Niceno-Constantinopolitano elabora ainda mais sobre a divindade de Jesus, afirmando que Ele é "Deus de Deus, Luz da Luz, verdadeiro Deus de verdadeiro Deus", enfatizando Sua natureza divina recebida do Pai. O termo "consubstancial ao Pai" foi adicionado ao Credo para esclarecer que o Filho compartilha a mesma natureza divina que o Pai, combatendo heresias como o Arianismo que afirmava ser Cristo uma criatura. A frase "por meio do qual tudo foi feito" destaca o papel de Jesus na criação.
Em resumo, a frase "E em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor" é uma poderosa declaração de fé:
- Afirma Jesus Cristo como Filho distinto e único de Deus por natureza, não por adoção.
- Estabelece Sua identidade divina, sendo "Deus de Deus" e "consubstancial ao Pai".
- Proclama-O como "Senhor", título divino significando Sua autoridade e papel como Salvador e mestre.
- Conecta-O ao Pai, de quem é eternamente gerado.
- Destaca Seu papel na criação, como "aquele por meio de quem tudo foi feito".
Que foi concebido pelo poder do Espírito Santo
A frase "concebido pelo poder do Espírito Santo" é uma parte fundamental do Credo Cristão, especificamente no artigo referente a Jesus Cristo. Ela significa uma crença central sobre a origem e natureza de Jesus, afirmando que sua concepção no ventre da Virgem Maria não ocorreu por meios humanos naturais, mas através da intervenção miraculosa do Espírito Santo. As fontes enfatizam que este foi um ato divino, um evento único e extraordinário que ressalta o status especial de Jesus como Filho de Deus.
O Catecismo de São Tomás de Aquino explica isso traçando uma analogia com o Verbo de Deus. Assim como uma palavra é concebida em nossos corações mas só se torna conhecida quando é falada, o Verbo de Deus, que é Jesus, estava no coração do Pai mas se tornou manifesto e conhecido quando assumiu a carne. Esta manifestação visível e tangível ocorreu pelo poder do Espírito Santo na Virgem Maria. O ser humano assim unido ao Verbo de Deus em uma só pessoa é corretamente chamado Filho de Deus. As palavras do arcanjo Gabriel a Maria, conforme relatadas no Evangelho de Lucas, são centrais para entender isso: "O Espírito Santo virá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra. Por isso também aquele Santo que há de nascer será chamado Filho de Deus".
Várias fontes destacam a conexão entre o papel do Espírito Santo aqui e na criação original. Assim como o Espírito de Deus pairava sobre as águas no início da criação (Gn 1:2), a ação do Espírito Santo em Maria é vista como uma nova criação, onde Deus inicia um novo começo para a humanidade através da Encarnação de seu Filho. Os Padres da Igreja frequentemente se referiam a Cristo como o novo Adão para enfatizar esta nova criação começando com seu nascimento da Virgem Maria. Esta concepção miraculosa pelo Espírito Santo afirma que a verdadeira origem de Jesus é Deus Pai, marcando-o como distinto e divino desde o momento de sua concepção.
Nasceu da Virgem Maria
A afirmação no Credo de que Jesus "nasceu da Virgem Maria" é uma declaração poderosa com profundo significado teológico, abordando vários aspectos essenciais da crença cristã sobre a pessoa de Jesus Cristo.
Primeiramente, esta parte do Credo serve para afirmar a genuína humanidade de Jesus. Na Igreja primitiva, surgiram várias heresias que tentavam negar ou diminuir a realidade da natureza humana de Cristo. Algumas, como os gnósticos e docetistas, afirmavam que Jesus apenas parecia ser humano ou que seu corpo físico não era derivado da própria carne de Maria. Ao declarar que Jesus "nasceu da Virgem Maria", o Credo afirma inequivocamente que Ele foi verdadeiramente humano, recebendo sua carne e sangue de uma mulher. Isso contraria a ideia de que o corpo de Cristo era meramente celestial ou que passou por Maria sem ser verdadeiramente gerado por ela.
Além disso, a menção de Maria como virgem enfatiza a natureza sobrenatural do nascimento de Jesus. As fontes indicam que este foi um ponto importante tanto contra os pagãos, que questionavam a natureza divina de Cristo, quanto contra os judeus, que esperavam o cumprimento das profecias do Antigo Testamento, como Isaías 7:14 ("Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho"). A concepção e o nascimento virginal, realizados pelo poder do Espírito Santo, significam que Jesus não é apenas um ser humano, mas o Filho de Deus encarnado. Esta origem milagrosa destaca que a Encarnação foi uma iniciativa divina, com Deus entrando na história humana de uma maneira única e sem precedentes.
A declaração de que Jesus "nasceu da Virgem Maria" também estabelece o papel único de Maria na história da salvação e sua identidade como Mãe de Deus. Como Jesus, aquele que ela gerou, é o Filho de Deus, Maria é corretamente chamada de Theotokos, a "portadora de Deus". Este título, afirmado pelo Concílio de Éfeso em 431 d.C., ressalta o profundo mistério de Deus se tornando humano através de Maria. O "sim" dela ao anúncio do anjo é visto como um momento crucial de fé e obediência, possibilitando a Encarnação.
Algumas fontes destacam que a maternidade de Maria não é apenas física, mas também espiritual, fundamentada em sua fé. Assim como ela concebeu Cristo em seu coração antes de concebê-lo em seu ventre, os crentes também podem conceber Cristo espiritualmente por meio da fé e da prática da Palavra de Deus. Nesse sentido, Maria serve como modelo de fé para toda a Igreja.
A inclusão do nome de Maria no Credo é, portanto, indispensável, ligando a natureza divina de Cristo com sua entrada concreta na humanidade por meio dela.
Padeceu sob Pôncio Pilatos
A parte do Credo que afirma "padeceu sob Pôncio Pilatos" é uma declaração historicamente fundamentada sobre o sofrimento de Jesus Cristo. Ao mencionar explicitamente Pôncio Pilatos, o prefeito romano da Judeia naquela época, o Credo ancora o evento crucial da Paixão de Jesus em um período histórico específico e em um contexto político concreto. Este detalhe não é apenas um marco histórico, mas serve para enfatizar a realidade e a historicidade do sofrimento e da morte de Jesus. Ele destaca que esses eventos não foram apenas espirituais ou simbólicos, mas ocorreram no âmbito tangível da história humana, sob a autoridade de uma figura histórica conhecida.
As fontes sugerem que o reconhecimento do papel de Pilatos no sofrimento de Jesus ressalta que a morte de Jesus foi um evento real com consequências terrenas. Raniero Cantalamessa descreve as tentativas de Pilatos de salvar Jesus e sua decisão final de ordenar a flagelação de Jesus, seguida pela crucificação. Pilatos até escreveu o motivo da condenação: "Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus". Este ato, embora pretendesse ser uma forma de concessão ou até mesmo de vingança, acabou levando ao sofrimento e à morte de Jesus na cruz. A inclusão do nome de Pilatos no Credo liga diretamente a verdade teológica do sofrimento de Cristo pela redenção da humanidade a um evento concreto do passado.
Segundo São Tomás de Aquino, não basta acreditar que Jesus Cristo é o Filho de Deus, mas também é necessário crer em Sua Encarnação e em Sua Paixão e Morte sob Pôncio Pilatos. Ele enfatiza que o nascimento de Cristo teria sido inútil para nossa redenção sem Seu subsequente sofrimento e morte. O Credo, nesta frase específica, serve, portanto, como um lembrete crucial da experiência humana tangível de sofrimento suportada por Jesus em benefício da humanidade, solidificando o alicerce da fé cristã em uma realidade histórica. Até mesmo a pergunta de Pôncio Pilatos a Jesus, "O que é a verdade?", feita durante os eventos que antecederam a Paixão, ressoa com o profundo significado deste momento histórico que o Credo recorda de maneira tão marcante.
Foi crucificado, morto e sepultado
A afirmação no Credo de que Jesus "foi crucificado, morto e sepultado" constitui uma parte crucial do Mistério Pascal, detalhando a realidade e as consequências do sofrimento de Jesus pela humanidade. Seguindo a declaração de que Jesus "padeceu sob Pôncio Pilatos", esta frase enfatiza a natureza concreta e histórica da morte de Jesus. As fontes destacam que a crucificação foi uma forma brutal de execução, e o Credo afirma explicitamente que Jesus a suportou. Isso ressalta que o sofrimento de Jesus não foi meramente superficial, mas atingiu seu ser físico, culminando em sua morte. Como observa São Tomás de Aquino, é tão necessário aos cristãos crer na Paixão e morte de Cristo quanto em sua Encarnação, pois seu nascimento não teria servido à nossa redenção sem seu sofrimento subsequente. O fato de Cristo ter morrido por nós é tão profundo que nosso intelecto mal consegue compreendê-lo, um testemunho da imensa graça e amor de Deus.
O Credo prossegue afirmando que Jesus foi morto, não deixando ambiguidade sobre o término de sua vida terrena. Esta declaração foi particularmente importante para combater heresias iniciais que poderiam ter minimizado a realidade da morte humana de Jesus. A morte de Jesus foi um evento real com consequências terrenas, ocorrendo sob a autoridade de Pôncio Pilatos, ancorando assim a fé cristã na realidade histórica.
Após sua morte, Jesus foi sepultado, um ato final que confirma a realidade de seu falecimento. O sepultamento, como mencionado nas Escrituras (Jo 19:31-42), significa que Jesus experimentou verdadeiramente o estado de separação entre sua alma e corpo, uma realidade da morte humana. Toda esta sequência – crucificação, morte e sepultamento – constitui a primeira parte do Mistério Pascal, preparando o caminho para a subsequente afirmação de sua ressurreição.
A inclusão destes detalhes no Credo é um esforço deliberado da Igreja para afirmar que o cristianismo é uma religião histórica, enraizada em eventos reais que ocorreram em um tempo e lugar específicos.
Desceu à mansão dos mortos
A frase "desceu à mansão dos mortos" no Credo significa que, após a morte de Jesus Cristo e antes de sua ressurreição, sua alma desceu ao reino dos mortos. Esta parte do Credo enfatiza que Jesus experimentou plenamente a morte, assim como todos os outros seres humanos. Segundo São Tomás de Aquino, a morte de Cristo consistiu na separação de sua alma e corpo, de modo semelhante à morte dos demais. No entanto, sua divindade permaneceu unida tanto ao seu corpo no túmulo quanto à sua alma na morada dos mortos.
O Catecismo de São Tomás de Aquino apresenta várias razões para a descida de Cristo à mansão dos mortos. Em primeiro lugar, foi para que Ele suportasse a pena completa pelo pecado, expiando assim toda a culpa. O pecado humano resultou não apenas na morte corporal, mas também em uma punição para a alma, nomeadamente a privação da visão divina. Antes de Cristo, nenhuma satisfação havia sido feita para superar essa privação e, portanto, todos iam para a mansão dos mortos. Em segundo lugar, Cristo desceu à mansão dos mortos para iluminar aqueles que estavam nas trevas, revelando as realidades da vida após a morte, assim como Ele desceu do céu para ensinar sobre as coisas celestes e ressuscitou dos mortos para ensinar sobre a vida eterna. O Livro da Sabedoria menciona que ninguém sabe quem retornou das profundezas (Sb 2,1), referindo-se aos ímpios. Mas, porque Cristo desceu e ressuscitou, Ele trouxe clareza a esse reino.
Além disso, a descida à "mansão dos mortos" demonstra a abrangência da vitória de Cristo sobre a morte. Como afirma o Creio A profissão de fé explicada aos catequistas Humberto Robson, Jesus experimentou a morte como todos os humanos, provando em sua própria carne o que significa morrer para este mundo e para toda a realidade material. Ao descer à "morada dos mortos" ou "infernos", Jesus fez com que a morte O conhecesse, como acontece com todos os seres humanos. A descida significa que o reino da morte não foi capaz de reter ou dominar o Salvador, o Filho de Deus. Ele esvaziou o domínio e o poder da morte, levando consigo todos os que ali estavam, deixando a morte de mãos vazias.
Em essência, este artigo do Credo afirma a universalidade da obra redentora de Cristo, estendendo-se até mesmo àqueles que morreram antes de sua vinda. São Tomás cita Zacarias e Oseias para enfatizar a vitória de Cristo sobre a morte e o mundo dos mortos: "Quanto a ti, por causa do sangue da minha aliança contigo, libertarei os teus prisioneiros do poço sem água" (Zc 9,11) e "Eu os resgatarei do poder do Sheol, eu os redimirei da morte. Onde está, ó morte, a tua praga? Onde está, ó Sheol, a tua destruição?" (Os 13,14). Esta descida é entendida não como Jesus indo ao inferno dos condenados, mas à morada de todos os mortos, incluindo os justos que aguardavam o Messias.
Ressucitou ao terceiro dia
As fontes discutem a parte do Credo que afirma que Jesus "ressuscitou ao terceiro dia" de várias maneiras, focando em sua base histórica, significado teológico e impacto na vida cristã.
A frase "Ressuscitou ao terceiro dia, conforme as Escrituras" é um elemento central do kerygma, o núcleo primitivo a partir do qual todo o Credo da Igreja se desenvolveu. Esse kerygma dizia respeito à obra de Deus em Jesus Cristo, especificamente o mistério pascal da morte e Ressurreição. As primeiras formulações da fé incluíam a afirmação de que Cristo "morreu por nossos pecados, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras". Isso é destacado na Primeira Carta de Paulo aos Coríntios, que antecede os Credos formais e enfatiza a realidade histórica da Ressurreição. Se Cristo não tivesse verdadeiramente ressuscitado, a fé cristã seria vã.
A Ressurreição ao terceiro dia é apresentada como um evento histórico, com os apóstolos declarando "Ressuscitou verdadeiramente". Os cristãos orientais até usam essa frase como uma saudação pascal. Os Evangelhos fornecem narrativas do evento da Ressurreição e das aparições de Cristo Ressuscitado. Esses relatos testemunham a iniciativa de Deus em ressuscitar Jesus e dar-lhe o poder de se manifestar.
Teologicamente, a Ressurreição ao terceiro dia significa vários aspectos cruciais:
- Vitória sobre a morte: A Ressurreição de Cristo é o fator decisivo para superar a morte. A morte foi "tragada pela vitória" através de Cristo. Ele abriu uma brecha para a vida, permitindo que os crentes o sigam.
- Cumprimento das Escrituras: A frase "conforme as Escrituras" indica que a Ressurreição não foi um evento imprevisto, mas foi predito no Antigo Testamento.
- Glória após o sofrimento: A Paixão de Cristo foi um caminho necessário para sua glória, ensinando aos crentes que a tribulação pode levar ao Reino de Deus.
- Consumação da salvação: Cristo escolheu ressuscitar ao terceiro dia, quando nossa salvação foi realizada. Ressuscitar imediatamente poderia não convencer as pessoas de que ele estava verdadeiramente morto, enquanto demorar muito poderia fazer os discípulos perderem a fé.
A Ressurreição de Jesus não é um evento isolado, mas o início e a antecipação da ressurreição dos mortos. Ela oferece a maior esperança, abrindo a vida e o mundo para o futuro eterno de Deus e a derrota do mal, do pecado e da morte. Essa esperança capacita os crentes a viverem suas vidas diárias com maior confiança e coragem.
Além disso, as fontes contrastam a crença cristã na ressurreição com a doutrina da reencarnação, afirmando que a reencarnação é contrária à Palavra de Deus e à doutrina da Igreja, sem nenhum apoio bíblico ou ensino da Igreja.
São Tomás de Aquino, em seu comentário sobre o Credo, também aborda a Ressurreição ao terceiro dia. Ele observa que, assim como Cristo desceu do céu para ensinar coisas celestiais, ele ressuscitou dos mortos para ensinar sobre isso (o estado dos mortos). Aquino explica o momento da Ressurreição ao terceiro dia, enfatizando que foi suficientemente atrasada para confirmar sua morte e suficientemente rápida para sustentar a fé dos discípulos. Ele também destaca a aplicação espiritual, exortando os crentes a buscarem a ressurreição espiritual da morte do pecado através da penitência. Essa ressurreição espiritual não deve ser adiada, assim como Cristo ressuscitou ao terceiro dia.
Subiu aos céus
A frase "Subiu aos céus" é um artigo crucial do Credo Cristão, marcando o ápice da missão terrena de Jesus Cristo e seu retorno à glória de Deus Pai. Esta afirmação segue diretamente da crença em sua Ressurreição ao terceiro dia e significa não apenas uma ascensão, mas a entrada definitiva de Cristo no reino celestial. Ela reforça a crença de que, após conquistar a morte e cumprir as profecias das Escrituras, Jesus foi elevado para estar com Deus, simbolizando a conclusão de sua obra salvífica na Terra.
A Ascensão é apresentada como uma consequência lógica da vitória de Cristo sobre o pecado e a morte. Tendo cumprido sua missão de redenção por meio de seu sofrimento, morte e ressurreição, sua exaltação ao céu significa a aceitação do Pai de seu sacrifício e seu triunfo sobre as potestades das trevas. Como afirmado nas fontes, Cristo veio ao mundo para lutar contra o diabo e vencê-lo, merecendo assim ser exaltado acima de todas as coisas. Este evento é frequentemente associado à profecia do Antigo Testamento no Salmo 110, citado no Novo Testamento, onde Deus diz ao Messias: "Senta-te à minha direita até que eu faça dos teus inimigos um estrado para os teus pés", indicando uma posição de poder e autoridade ao lado de Deus.
Além disso, a Ascensão tem implicações profundas para os crentes cristãos. Ela significa que Cristo, agora glorificado, intercede pela humanidade diante de Deus. Sua presença no céu não é uma separação da humanidade, mas sim um novo modo de presença, onde ele reina como Senhor de tudo. As fontes destacam que estar sentado à direita de Deus implica não apenas estar em eterna bem-aventurança, mas possuí-la com um certo poder governante, próprio e natural apenas a Cristo.
Ademais, a Ascensão prefigura a esperança futura dos crentes. Assim como Cristo ascendeu ao céu, aqueles que nele creem compartilham da promessa da vida eterna e da união com Deus no reino celestial. Embora as fontes não detalhem explicitamente o comentário de Aquino sobre esta frase específica além de sua provável ênfase na glorificação, sua abordagem geral ao Credo envolve destacar o significado teológico para a vida de fé. Portanto, a Ascensão serve como um poderoso lembrete do destino final dos crentes e do poder transformador da obra salvadora de Cristo.
Está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso
A profissão de fé cristã afirma que Jesus Cristo, após sua ressurreição e ascensão aos céus, está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso. Esta declaração, presente tanto no Símbolo Apostólico quanto no Credo Niceno-Constantinopolitano, carrega um profundo significado teológico, indicando não apenas a exaltação de Cristo, mas também sua participação no poder e na glória divina. A localização "à direita" não deve ser entendida de maneira literal como uma posição física, mas sim como uma expressão simbólica de honra, autoridade e poder, um costume presente em diversas culturas antigas onde se colocar à direita de um soberano significava ocupar um lugar de grande importância e influência.
São Tomás de Aquino, em seus sermões sobre o Credo, esclarece que sentar-se à direita de Deus não significa simplesmente desfrutar da bem-aventurança eterna, mas sim possuí-la com um poder dominativo, quase próprio e natural, um poder que convém unicamente a Cristo e a nenhuma outra criatura. Esta interpretação sublinha a singularidade da posição de Jesus, distinguindo-o de todas as outras criaturas celestiais e terrestres. A ascensão de Cristo e sua consequente entronização à direita do Pai são vistas como o resultado de sua vitória sobre o pecado e a morte. Tendo cumprido sua missão redentora na terra, oferecendo-se em sacrifício pelos pecados da humanidade e ressuscitado para a nossa justificação, Cristo é elevado à máxima glória6 .
A afirmação de que Jesus está à direita do Pai também implica a continuidade do seu reino. A frase "e o seu reino não terá fim," que foi adicionada posteriormente ao Credo, precisamente no século IV, visava combater heresias que negavam a perpetuidade do reinado de Cristo, sugerindo que, ao final dos tempos, o Filho seria reabsorvido na substância do Pai. Ao professarmos que Jesus está sentado à direita de Deus, reafirmamos a crença na eternidade do seu domínio e na sua contínua intercessão pela Igreja e pela humanidade. Além disso, esta posição gloriosa é inseparável da sua futura vinda em glória para julgar os vivos e os mortos. Aquele que agora reina com o Pai voltará como juiz universal, completando assim o plano divino para a história da salvação.
A compreensão desta verdade de fé exige que reconheçamos a natureza divina de Jesus Cristo. As palavras do Credo, como "Filho unigênito de Deus, nascido do Pai antes de todos os séculos: Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai", proclamam a sua igualdade com o Pai em divindade. Estar à direita do Pai é, portanto, a manifestação da sua glória como Filho de Deus encarnado, que compartilhou plenamente da natureza divina desde a eternidade e que assumiu a natureza humana para a salvação do mundo1. Esta verdade central da fé cristã nos convida a contemplar a grandeza do mistério pascal de Cristo, culminando na sua exaltação e no seu eterno reinado ao lado do Pai todo-poderoso.
Donde há de vir a julgar os vivos e os mortos
No Credo, os cristãos professam sua crença de que Jesus Cristo "virá novamente em glória para julgar os vivos e os mortos". Este artigo de fé conclui os princípios centrais do Credo concernentes ao mistério de Cristo, seguindo as afirmações de sua morte e ressurreição. Esta crença não é meramente um evento futuro, mas um aspecto significativo da escatologia cristã, intimamente ligado ao propósito e destino final do mundo.
O papel de juiz pertence a Cristo porque, tendo ascendido ao céu e assentado à direita de Deus como Senhor de tudo, o julgamento pertence-lhe apropriadamente. Isso também foi proclamado pelos anjos. A Escritura afirma que Deus designou Cristo como juiz dos vivos e dos mortos. O termo "vivos" pode referir-se àqueles que estiverem vivos no momento do julgamento ou aos que vivem justamente, enquanto "mortos" pode referir-se aos que já morreram ou aos mortos no pecado. O papel de Cristo como juiz é entendido não apenas em sua divindade, mas também em sua humanidade, pois é adequado que os que estão sendo julgados vejam seu juiz. Como o deleite da Divindade é tal que ninguém pode vê-la sem alegria, e nenhum condenado poderia contemplá-la sem sentir felicidade imediata, era necessário que Cristo aparecesse na forma humana para que pudesse ser visto por todos.
O próprio julgamento, frequentemente chamado de juízo final, é um tema presente tanto na pregação de Jesus quanto na dos apóstolos. Embora descrições poéticas e dramáticas, como a abertura de um "livro escrito" onde "tudo está contido" para o julgamento do mundo, tenham influenciado o entendimento cristão, o julgamento real é compreendido como mais imediato e pessoal. Será um julgamento da consciência, onde cada pessoa se verá como realmente é e será julgada de acordo. Este julgamento abrangerá todos os aspectos da vida de uma pessoa: obras boas e más, incluindo palavras inúteis e até mesmo pensamentos.
Há perspectivas diferentes sobre quem enfrentará este julgamento. Alguns creem que aqueles que morrem em estado de perfeita justiça podem ser salvos sem passar pelo julgamento, exemplificados pelos "pobres de espírito". No entanto, todos serão responsabilizados por suas ações. O julgamento deve ser temido devido à sabedoria infinita do juiz, que conhece todas as coisas, incluindo pensamentos, palavras e ações ocultas. As consciências dos indivíduos também servirão como testemunhas infalíveis.
O resultado deste julgamento será uma separação entre os justos e os ímpios. Os justos entrarão na vida eterna, experimentando realização perfeita e segurança na alegria de seu Senhor. Por outro lado, os ímpios sofrerão punição eterna, um estado sem esperança onde seu tormento nunca cessará. Seus corpos possuirão qualidades negativas, como obscuridade e peso.
A crença no retorno de Cristo em glória e no subsequente julgamento é uma pedra angular da esperança cristã. Ela ressalta a responsabilidade final pelas ações humanas e o estabelecimento definitivo da justiça e do reino de Deus, um reino que "não terá fim". Esta esperança deve inspirar os crentes à vigilância em suas vidas presentes, reconhecendo que este tempo é como uma noite, e a vida, fora da fé, é como um sonho. A consequência prática desta expectativa é o imperativo de "vigiar", pois o momento da vinda do Filho do Homem é desconhecido. Em vez de focar em discursos ameaçadores sobre o fim do mundo, a ênfase deve estar na finalidade do mundo e em seu destino: um encontro (parousia) com uma pessoa que aguarda a humanidade de braços abertos.
Creio no Espírito Santo
Na estrutura do Credo, a afirmação "Creio no Espírito Santo" constitui o terceiro artigo principal, seguindo aqueles relativos a Deus Pai e Jesus Cristo. Este artigo, mesmo em sua forma mais breve encontrada no antigo Credo dos Apóstolos, que simplesmente declara "Creio no Espírito Santo, na santa Igreja Católica...", é um pilar fundamental sobre o qual a fé da Igreja mãe foi solidamente edificada, sobre o alicerce estável que é Cristo Senhor. O mais extenso Credo Niceno-Constantinopolitano, base da fé comum para todas as igrejas cristãs até hoje, desenvolve esta afirmação inicial, declarando: "Creio no Espírito Santo, que é Senhor e dá a vida, e procede do Pai e do Filho; e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado: Ele que falou pelos profetas".
O surgimento deste artigo detalhado sobre o Espírito Santo não foi uma criação repentina, mas sim "o fruto de um lento emergir da verdade divina na mente humana", resultado de uma pedagogia divina que respeita os tempos de amadurecimento humano. O debate explícito sobre o lugar do Espírito Santo na Trindade foi iniciado por Santo Atanásio no século IV. Antes disso, a doutrina acerca do Paráclito permanecera um tanto na sombra, compreensivelmente, pois definir a posição do Espírito na divindade logicamente seguiu-se à definição da do Filho, ocorrida em Niceia em 325. Consequentemente, o símbolo de fé primitivo contentava-se com a simples declaração "e creio no Espírito Santo", sem acréscimos. Figuras como Nazianzeno posteriormente enfatizaram a plena divindade do Espírito Santo, questionando por que tal verdade deveria permanecer oculta. Por fim, foi o Concílio Ecumênico de Calcedônia em 451 que resgatou e adotou o artigo expandido sobre o Espírito Santo, incorporando-o ao Credo Niceno-Constantinopolitano que recitamos na Missa ao longo do ano.
As definições conciliares no Credo, particularmente sobre o Espírito Santo, não são resumos exaustivos da fé. Em vez disso, servem para delimitar um perímetro dentro do qual as afirmações sobre uma verdade específica devem situar-se, salvaguardando a verdade subjacente. Isso é evidente ao comparar o artigo do Credo com as extensas descrições do Espírito Santo encontradas no Novo Testamento ou em ricos hinos pneumatológicos como o Veni Creator ou a sequência pentecostal Veni Sancte Spiritus. Assim, o artigo do Credo não conclui a reflexão sobre o Espírito Santo, mas sim a estimula e orienta.
A descrição do Espírito Santo como "Senhor" (em grego to kyrion, neutro) é significativa. É importante notar que o Credo não diz "o Senhor" (como faz momentos antes com "e creio em um só Senhor Jesus Cristo!"), mas simplesmente "Senhor". Este termo indica a natureza, não a pessoa, significando o que o Espírito é, não quem o Espírito é. "Senhor" aqui significa "que pertence ao mundo do senhorio de Deus", ou seja, que o Espírito é Deus. Embora alguns bispos inicialmente tenham criticado a definição por não afirmar explicitamente que o Espírito Santo é pura e simplesmente Deus e consubstancial ao Pai (como fora feito com o Filho), a formulação escolhida, juntamente com a atribuição de isotimia (honra igual) ao Espírito na adoração e glorificação da Igreja, serviu ao mesmo propósito de afirmar a divindade e igualdade do Espírito com o Pai e o Filho. Esta glorificação compartilhada confessa implicitamente a divindade do Espírito Santo sem precisar usar explicitamente o nome de Deus.
O Credo afirma ainda que o Espírito Santo "dá a vida" e "procede do Pai e do Filho". Estas afirmações tocam na própria essência da atividade do Espírito e sua relação dentro da Trindade. Além disso, a declaração "e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado" reforça o status divino igual do Espírito Santo.
A parte final deste artigo, "Ele que falou pelos profetas", acrescenta outra dimensão crucial ao nosso entendimento do papel do Espírito Santo. Na Bíblia, a ação do Espírito é percebida de duas maneiras principais: a atividade criadora e vivificante que transforma o coração da pessoa e a torna "agradável a Deus" (na teologia chamada gratia gratum faciens) e a atividade carismática que distribui dons particulares, não diretamente para a santificação do receptor, mas para a edificação da comunidade (na teologia chamada gratia gratis data). Esta distribuição de dons espirituais para a construção da comunidade é detalhada, por exemplo, no Capítulo 12 da Primeira Carta aos Coríntios. Este papel profético do Espírito destaca que a verdadeira proclamação da fé não é meramente um produto do intelecto ou eloquência humanos. Em vez disso, deve originar-se da busca pela palavra de Deus primeiro, seguida pelo uso das próprias capacidades para dar forma àquela mensagem divina. Quando o pregador fala assim, ele fala "como se fossem palavras de Deus" (1 Pedro 4:11). Nesses momentos, a voz humana parece desaparecer, dando espaço a outra voz, ecoando o dito de Fílon de Alexandria: "O verdadeiro profeta, quando fala, cala".
O Espírito Santo também desempenha um papel vital em nosso entendimento de Jesus Cristo. A fé mais antiga da Igreja, imediatamente após a Páscoa, centrava-se na proclamação "Jesus é Senhor" (Kyrios). No entanto, a articulação mais plena da fé em Jesus como "Filho unigênito de Deus... Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não criado, consubstancial ao Pai" desenvolveu-se posteriormente, especialmente após a controvérsia ariana e o Concílio de Niceia. Reconhecer Jesus como Senhor é fundamental, pois reconhece o mistério pascal de sua morte e ressurreição. O Espírito Santo é instrumental em levar-nos a este reconhecimento de Jesus como Senhor, Salvador e Filho de Deus. O Espírito nos guia a Jesus tanto pelo conhecimento quanto pelo amor, levando-nos finalmente a seguir Jesus de Nazaré que se encarnou, viveu entre nós, morreu e ressuscitou. Este entendimento de Cristo na unção do Espírito requer uma experiência vivida do Espírito, análoga à que acompanhou o desenvolvimento inicial da teologia do Espírito no século IV. É pelo poder do Espírito que a mensagem sobre Jesus é demonstrada, garantindo que a fé não se fundamente na sabedoria humana, mas no poder de Deus.
Além disso, o Espírito Santo está ligado à apostolicidade da Igreja. Embora a sucessão apostólica tenha um aspecto jurídico, concernente ao poder canônico, ela também possui um elemento espiritual: a união no Espírito pela qual os escolhidos participam da unção profética, real e sacerdotal de Jesus. O verdadeiro sucesso do trabalho apostólico é garantido não apenas pela eleição canônica, mas pela unção do Espírito Santo. A Igreja é apostólica não apenas porque é fundada sobre os apóstolos (sentido passivo), mas também porque é missionária, sendo "enviada" (sentido ativo), continuando a obra dos apóstolos.
O Espírito Santo também está associado aos sacramentos, particularmente ao batismo e à unção que frequentemente o segue. O próprio termo "cristão" (christianoi) deriva da palavra grega para unção (chrio), ligando-o a Cristo, o Ungido, e à unção dos crentes com o Espírito. Fontes antigas frequentemente usam o tema do Espírito como um "selo real" com o qual Cristo marca suas ovelhas no batismo, um conceito que mais tarde desenvolveu-se na doutrina do "caráter indelével" conferido pelo crisma.
Além dos sinais institucionais, o Espírito Santo também age livre e imprevisivelmente, oferecendo outro caminho para uma "sóbria embriaguez do Espírito" ao lado da Eucaristia ("cálice da salvação") e das Escrituras. Esta ação pentecostal, desimpedida do Espírito, é evidenciada nos Atos dos Apóstolos, onde aqueles que falavam em diferentes línguas pareciam estar embriagados aos seus ouvintes. Portanto, crer no Espírito Santo engloba reconhecer sua natureza divina, seu papel vital em dar a vida, sua processão dentro da Trindade, seu ser igualmente adorado e glorificado com o Pai e o Filho, sua inspiração aos profetas e sua ação contínua na Igreja e na vida dos crentes, particularmente em conduzi-los a um entendimento mais profundo e ao seguimento de Jesus Cristo.
Na Santa Igreja Católica
O conceito de "Santa Igreja Católica" abrange uma rica compreensão da comunidade de crentes em Jesus Cristo, traçando suas origens e natureza através das Escrituras, da tradição e dos pronunciamentos da própria Igreja. Em seu nível mais fundamental, a palavra "Igreja" significa uma congregação, especificamente a congregação dos fiéis. Esta santa assembleia, segundo os ensinamentos, não é meramente uma construção humana, mas está intimamente conectada ao divino.
O próprio fundamento da Santa Igreja Católica é construído sobre os ensinamentos e a autoridade dos apóstolos, com Jesus Cristo como a pedra angular. É sobre este alicerce estável que a fé da Igreja mãe foi solidamente edificada. Assim como um corpo tem muitos membros, mas uma só alma, a Igreja Católica é entendida como um só corpo com muitos membros, vivificado pelo Espírito Santo. Esta profunda conexão com o Espírito divino significa que a vida e as ações da Igreja estão intrinsecamente ligadas à graça e à orientação de Deus.
A Igreja é tradicionalmente reconhecida por quatro características distintas: ela é una, santa, católica e apostólica. A unidade da Igreja provém de várias fontes, principalmente a unidade da fé, pois todos dentro de seu corpo creem nas mesmas verdades fundamentais. Esta crença compartilhada é ecoada no chamado bíblico para "dizer a mesma coisa" e reconhecer "um só Deus, uma só fé, um só batismo". Apesar do surgimento de várias seitas e heresias ao longo da história, a verdadeira Igreja permanece una, como uma pomba perfeita, indivisível em suas crenças centrais.
O termo "católica", derivado da palavra grega que significa "universal" ou "em geral", significa vários aspectos essenciais da Igreja. Denota que a Igreja se estende por todo o mundo, de um extremo ao outro. Além disso, ela ensina universalmente e sem interrupção os dogmas que a humanidade deve conhecer. A Igreja também é descrita como católica porque lida e cura todo tipo de pecado, seja do corpo ou da alma, e porque possui em si mesma toda sorte de virtude, em palavra e ação, bem como todos os dons espirituais. Esta universalidade ressalta que só pode haver uma Igreja Católica, assim como não pode haver duas totalidades ou corpos distintos de Cristo. A inclusão nesta Igreja Católica é apresentada como essencial para alcançar a verdade de Deus e para que os carismas permaneçam unidos e em contato vital com sua fonte, o Espírito de Cristo Ressuscitado.
A última marca, "apostólica", destaca a ligação fundamental da Igreja com os apóstolos escolhidos por Jesus. A Igreja é construída sobre a pregação e a oração dos apóstolos e sobre a autoridade conferida a eles pelo próprio Cristo. Os cristãos são comparados a pedras vivas formando um edifício, a Igreja, que repousa sobre os apóstolos como colunas, com Jesus Cristo como a pedra angular. Esta conexão é mantida através da sucessão apostólica, onde os bispos, incluindo o Papa como Bispo de Roma, guiados pelo Espírito Santo, garantem a continuidade da missão apostólica. No entanto, esta sucessão não é apenas uma questão legal ou canônica, mas também envolve um elemento espiritual, uma união do Espírito através da qual o líder escolhido participa da unção profética, real e sacerdotal de Jesus. O termo "apostólica" também carrega um significado ativo, indicando que a Igreja é missionária, enviada para continuar a obra dos apóstolos, anunciando o Evangelho tanto ao mundo pré-cristão quanto ao pós-cristão. A principal tarefa destes sucessores dos apóstolos é orar primeiro e depois anunciar o Evangelho.
A fé que sustenta a Santa Igreja Católica é frequentemente resumida em credos, como o Credo Niceno-Constantinopolitano e o Credo dos Apóstolos. Estes símbolos de fé não são composições arbitrárias, mas sim compilações dos pontos essenciais de toda a Escritura, projetados para oferecer uma doutrina completa da fé. Eles servem como alicerces estáveis sobre os quais a fé da Igreja é construída. Os crentes são encorajados a manter estes credos presentes em suas mentes e corações, a repeti-los, proclamá-los e nunca esquecê-los, pois eles encapsulam os princípios fundamentais de sua fé. O ato de professar esta fé não deve ser uma mera recitação formal, mas um engajamento consciente e ativo com as verdades contidas nela, alinhando as palavras pronunciadas com a fé mantida no coração e na mente. A Santa Igreja Católica, portanto, apresenta-se como uma comunidade unificada, sagrada, universal e apostólica, fundamentada nos ensinamentos de Cristo e dos apóstolos, animada pelo Espírito Santo e dedicada a proclamar o Evangelho em todo o mundo.
Na comunhão dos santos
A afirmação de crença na Comunhão dos Santos é um componente significativo do Credo, representando um princípio fundamental da fé cristã. Este artigo de fé, conforme incluído no Credo, significa mais do que uma mera coleção de indivíduos; aponta para uma profunda interconexão entre todos os que pertencem a Cristo. Assim como o próprio Credo serve para sintetizar as principais verdades da fé, inicialmente em formas concisas e posteriormente em explicações mais detalhadas para aqueles que se preparam para o batismo, a inclusão da Comunhão dos Santos ressalta sua importância fundamental dentro da doutrina cristã.
Com base nos escritos de São Paulo, o conceito de Comunhão dos Santos abrange todos os que abraçaram Jesus Cristo e constituem sua Igreja em todo o mundo. Paulo frequentemente dirigia suas cartas aos "santos de Deus", uma designação para aqueles que formam a comunidade eclesial. Esse entendimento destaca que pertencer a Cristo envolve inerentemente fazer parte de um corpo maior de crentes, um parentesco espiritual que transcende fronteiras geográficas. A profissão de fé, embora pessoal, está profundamente entrelaçada com o "nós cremos" comunitário da Igreja, onde cada declaração individual contribui para uma afirmação coletiva de convicções compartilhadas.
A expressão "Comunhão dos Santos" carrega um duplo significado, ambos intrinsecamente ligados. Em primeiro lugar, significa uma comunhão em coisas santas. Isso se refere ao compartilhamento das realidades sagradas dentro da Igreja, como os sacramentos, a Palavra de Deus e os dons do Espírito Santo. Estes são os tesouros espirituais que unem os crentes e nutrem sua fé. Em segundo lugar, a Comunhão dos Santos denota uma comunhão entre pessoas santas. Este aspecto enfatiza a solidariedade espiritual que existe entre todos os membros da Igreja, estejam eles vivendo na terra (Igreja Militante), tenham morrido e estejam sendo purificados (Igreja Padecente) ou tenham alcançado a glória celestial (Igreja Triunfante). Esta comunhão transcende as fronteiras da morte, unindo todos os que estão em Cristo em um vínculo de oração e apoio mútuo. A própria Igreja, frequentemente descrita como a congregação dos fiéis, personifica esta comunhão, onde cada cristão serve como membro deste todo interconectado. Em última análise, a crença na Comunhão dos Santos ressalta a unidade e solidariedade do povo de Deus em Cristo, uma família espiritual unida por sua fé compartilhada e participação na vida sagrada da Igreja.
Na remissão dos pecados
O conceito da remissão dos pecados constitui uma pedra angular da crença cristã, profundamente entrelaçado com o entendimento da graça de Deus e da necessidade de reconciliação da humanidade. O Credo, declaração fundamental de fé da Igreja, professa explicitamente a crença em "um só batismo para remissão dos pecados". Esta declaração, presente mesmo nas primeiras formulações do Credo como o Credo dos Apóstolos, ressalta a importância do perdão divino na vida cristã. A origem desta crença remonta aos ensinamentos encontrados nas Escrituras, particularmente no Novo Testamento. Por exemplo, o Apóstolo Pedro, em seu sermão no Dia de Pentecostes, respondeu à pergunta da multidão sobre o que deveriam fazer dizendo: "Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados". Este momento crucial estabeleceu uma clara ligação entre o batismo e a purificação das transgressões.
A possibilidade da remissão dos pecados está fundamentalmente enraizada na pessoa e obra de Jesus Cristo. Sua morte e ressurreição são entendidas como o sacrifício definitivo e a vitória sobre o pecado e a morte, abrindo caminho para a reconciliação da humanidade com Deus. Como afirma São Paulo: "Se confessares com tua boca que Jesus é Senhor e creres em teu coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo!". Esta antiga profissão de fé destaca o papel central do mistério pascal de Cristo na realização da salvação, que inclui inerentemente o perdão dos pecados. São Tomás de Aquino explica que Cristo, através de Sua Paixão, libertou a humanidade do pecado como causa mesma desta libertação, estabelecendo os meios pelos quais todos os pecados - passados, presentes e futuros - podem ser perdoados. Esta libertação não é meramente um evento histórico, mas se torna efetiva na vida dos crentes através dos sacramentos, principalmente o batismo e a penitência (ou reconciliação), que derivam sua eficácia da Paixão de Cristo.
Embora o batismo seja visto como a purificação inicial do pecado, incluindo o pecado original, o entendimento cristão reconhece a luta contínua contra o pecado na vida humana. Com exceção de Jesus Cristo, que possuía o Espírito sem medida, e da Santíssima Virgem Maria, que era cheia de graça e sem pecado, todos os indivíduos estão sujeitos a falhar em atingir o padrão perfeito de Deus. Portanto, o sacramento da Reconciliação ou Confissão serve como meio vital para que os batizados recebam o perdão dos pecados cometidos após o batismo. Embora as práticas específicas e interpretações deste sacramento tenham evoluído ao longo da história da Igreja, a crença central no poder da Igreja de perdoar os pecados de indivíduos arrependidos permaneceu constante.
A crença na remissão dos pecados não é uma doutrina isolada, mas está intrinsecamente conectada ao quadro mais amplo da fé cristã. Segundo São Tomás de Aquino, o conhecimento da fé, que vem do Credo, é a primeira necessidade para a salvação. A remissão dos pecados, como componente chave da salvação, é assim um aspecto essencial das verdades professadas no Credo. Além disso, esta crença fomenta a esperança e guia os indivíduos em direção à caridade em suas vidas. Reconhecer a própria pecaminosidade e a provisão graciosa do perdão cultiva a humildade e uma apreciação mais profunda da misericórdia de Deus. Em última análise, o conceito da remissão dos pecados ressalta o poder transformador do amor de Deus, oferecendo um caminho para a reconciliação, cura e vida eterna. Crer nestas verdades pela fé nesta vida permite uma visão e compreensão mais plena e perfeita na vida eterna.
Na ressurreição da carne
A crença na ressurreição da carne é um princípio central da fé cristã, professando que os indivíduos que morrerão serão novamente elevados em sua totalidade. Este artigo do Credo surgiu na Igreja primitiva, com menções encontradas mesmo nas formulações mais antigas, incluindo o Credo dos Apóstolos. A insistência na ressurreição da carne foi crucial para combater ideias filosóficas que denegriam o corpo ou sugeriam uma ressurreição puramente espiritual, enfatizando o valor e a natureza integral de todo o ser humano, corpo e alma. Esta doutrina não foi concebida como mera revitalização de um cadáver, mas como uma realidade mais profunda e abrangente que transcende nossa compreensão intelectual, permanecendo fundamentalmente uma verdade de fé.
A ressurreição da carne está inextricavelmente ligada à ressurreição de Jesus Cristo. O Novo Testamento fornece testemunhos na forma de profissões de fé e narrativas da ressurreição de Cristo, que servem como fundamento para crer em nossa própria ressurreição futura. São Paulo, em suas cartas, discute esta conexão, destacando que a ressurreição de Cristo dentre os mortos é a garantia da ressurreição dos crentes. Os eventos da morte e ressurreição de Cristo culminam em seu ser Senhor tanto dos mortos quanto dos vivos. Portanto, a esperança cristã na ressurreição está ancorada na realidade da própria vitória de Cristo sobre a morte.
Embora os detalhes do corpo ressuscitado estejam além da plena compreensão humana, alguns insights podem ser obtidos das Escrituras e da reflexão teológica. O Apóstolo Paulo usa a analogia de uma semente para explicar que o que é semeado perecível será ressuscitado imperecível, sugerindo uma transformação em vez de uma simples restauração. O corpo ressuscitado será incorruptível e imortal, não mais sujeito às necessidades e limitações de nossa existência terrena. Esta crença contraria a ideia de que apenas a alma sobrevive à morte, afirmando a redenção e glorificação definitivas de toda a pessoa.
O conceito da ressurreição da carne também contrasta com filosofias que postulam a imortalidade da alma enquanto desprezam a importância do corpo. A Igreja primitiva afirmou esta doutrina para sustentar o entendimento bíblico da natureza humana como unidade do físico e do espiritual. Além disso, a ressurreição da carne está intrinsecamente conectada ao juízo final, quando Cristo voltará em glória para julgar os vivos e os mortos. Este julgamento envolverá toda a pessoa, ressuscitada para a vida, para receber as consequências definitivas de sua existência terrena. Assim, a crença na ressurreição da carne ressalta a esperança cristã na vida eterna, não como espíritos desencarnados, mas como seres plenamente renovados em comunhão com Deus. Este profundo mistério exige fé e confissão, guiando os crentes a viver à luz desta esperança última.
Na vida eterna
O conceito de vida eterna constitui o ponto culminante da crença cristã, representando não meramente uma extensão da existência terrena, mas um modo fundamentalmente diferente de ser e plenitude. É apresentado como o objetivo último do desejo humano, um estado de perene alegria e união com Deus. Esta esperança na vida eterna está intrinsecamente ligada à vitória sobre o pecado e a morte conquistada por Jesus Cristo; é a prometida felicidade sem fim para aqueles que morrem n'Ele. O comentário do Catecismo enfatiza que esta verdade contrapõe-se à noção de que a alma perece com o corpo, crença que reduziria a humanidade ao nível de meros animais.
A transição para a vida eterna é compreendida através da lente da morte e ressurreição. A morte, em vez de ser um fim absoluto, é retratada como uma passagem, uma "ponte de suspiros" que deve ser atravessada para alcançar o outro lado. A ressurreição de Jesus transformou a morte de uma barreira intransponível em um conduto para a vida eterna. A perspectiva cristã vê a vida e a morte como uma progressão onde a morte é um espaço negativo entre dois positivos - a vida terrena e a vida eterna - em contraste com filosofias que veem a vida como um positivo temporário entre dois negativos de nada. A crença na ressurreição dos mortos é, portanto, integral à esperança da vida eterna, sendo nossa própria ressurreição intimamente conectada à ressurreição de Cristo.
Significativamente, as fontes sugerem que a eternidade não é apenas uma aspiração futura, mas também uma realidade presente experimentada através dos atos de fé em Cristo, da recepção da Sagrada Comunhão e do engajamento com as palavras do Evangelho, que são em si mesmas "palavras de vida eterna". O conceito de graça é descrito como o próprio início desta glória futura. Esta participação presente na dimensão eterna deve revitalizar nossa fé e capacitar-nos a navegar os desafios do mundo com esperança.
Olhando para o futuro, o retorno de Cristo em glória para julgar os vivos e os mortos é um evento pivotal intimamente ligado à realização da vida eterna. Este juízo final revelará as consequências últimas das escolhas e ações empreendidas durante a vida terrena, conduzindo os justos à vida eterna e outros ao castigo eterno. A ênfase na vigilância nos ensinamentos de Jesus acerca de seu retorno sublinha a importância de viver de maneira que reflita o destino eterno que aguarda os crentes.
Os atributos da vida eterna, conforme descritos nas fontes, incluem o conhecimento perfeito, o completo cumprimento dos desejos e um estado de perfeita segurança, isento de tristeza, fadiga ou medo. Central a esta existência eterna está a união com Deus, que é a recompensa última e o propósito de nossos esforços terrenos. Esta visão beatífica, onde conheceremos Deus plenamente, contrasta com o entendimento parcial que temos através da fé nesta vida. Portanto, a antecipação da vida eterna deve estar continuamente presente em nossas mentes, inspirando-nos a buscar o bem e afastar-nos do mal, guiados pela compreensão de que nossa jornada terrena está orientada para este destino último e eterno.